segunda-feira, agosto 20, 2007

Safari


Tem uma selvagem escondida dentro de mim.

Ou talvez tenha uma pitada de civilizada na selvagem evidente que eu sou.

Fico em cima do muro, entre as duas, pensando que qualquer dia destes a selvagem faz uma loucura. Mas depois aquieto e a civilizada volta a levar sua vida dentro das paredes nas quais foi institucionalizada para viver.

A selvagem, de tempos em tempos exige espaço. Mas suas exigências acabam sempre durando apenas o suficiente para serem confundidas com a tpm ou com alguma outra fase de hormônios mais à flor da pele. Então, a civilizada quase se apodera de tudo e faz acreditar que hormônios enlouquecidos são a excessão.

Bicho que é, a selvagem espreita. Adestrada que se tornou, a civilizada argumenta.

Tem algo que admiram de longe, uma na outra. Mas sabem-se sol e lua, incompatíveis dividindo o céu e, entretanto, usando sempre o espaço que é de ambas.

Não alcançam o suficiente para enxergar o que faria uma na vida da outra. Sofrem fora do seu habitat, lhes falta o ar, lhes falta o chão. Não são aliadas. São oponentes involuntárias brigando por território. Choram quando expostas ao cruel talvez, e este é provavelmente o único ponto que jamais terão em comum.

A civilizada, na selva, sente medo e solidão. A selvagem, no concreto, sente asfixia e insatisfação.

Infinitos horizontes excludentes que se tocam brevemente no olhar e no acelerar da pulsação. E isto é tudo o que há entre elas, não concordarão jamais.

5 comentários:

Beatrice disse...

Somos tantas... Como resolver o dilema que existe entre nós e nós todas? Eu desisti. Hoje, tento libertá-las devagar, sem que o mundo perceba quem se aproxima.

(Lindo texto)

Anônimo disse...

Seu olhar, de tanto percorrer as grades,
está fatigado, já nada retém.
É como se existisse uma infinidade
de grades e mundo nenhum mais além.

O seu passo elástico e macio, dentro
do círculo menor, a cada volta urde
como que uma dança de força: no centro
delas, uma vontade maior se aturde.

Certas vezes, a cortina das pupilas
ergue-se em silêncio. – Uma imagem então
penetra, a calma dos membros tensos trilha –
e se apaga quando chega ao coração.

("A Pantera", Rainer Maria Rilke, no jardim de Plantes, Paris [tradução de José Paulo Paes])

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Assim que li seu texto, lembrei deste poema de Rilke.

Que sejam belas. Sejam fortes e sejam livres... E coexistam.

Amo as duas. Amo todas.

Beijo, poeta linda.

Anônimo disse...

Olá! Gostei do texto. Gostei do blog. Adorei as fotos. Piracicaba é linda rsss - Beijo - MMdesigner

Anônimo disse...

Olá amiga Bia.Saudades.Somos muitas em uma só....Querida tudo de bom pra ti. bEIJÃO SAUDOSO.IsTI.

Sanka disse...

olhando bem de pertinho, bem mais a miúde, somos todas assim. Dois opostos.

beijos1!!!!!