quinta-feira, dezembro 13, 2007

Ao Final de Dezembro



Eu não acredito em Natal que tem data pra acontecer.

O Natal de verdade, que faz nossas mentes egoístas darem lugar aos nossos corações solidários pode-deve-pede para acontecer todo dia. Mas eu também não acredito em Natal que acontece todo dia. Simplesmente porque é difícil pacas. Não é todo dia que nosso espírito nos permite jorrar a generosidade que temos dentro de nós e fixar os olhos em propósitos elevados e cheios da beleza de ser humano. Somos mundanos também.

O que eu acredito é que o Natal, este que tem data para acontecer, inspira a todos. E os frutos se enxergam no Natal - o Natal, aquele sem data, Natal no sentido - que fica plantado nos corações e retorna, como ondas claras, banhando tantos outros dias do ano.

Neste, que está assinalado na agenda, sempre acontecem histórias que poderiam num piscar de olhos, se transformar em lendas de Natal.

São mobilizações e mais mobilizações para que se doem alimentos, brinquedos, roupas, doces, sonhos. E de repente, os filminhos das Boas Festas reprisados sucessivamente na sessão da tarde não parecem tão água com açúcar assim. Os corais entoando fé, amor e beleza , magicamente se tornam mensageiros das belas novas. E reais.
Vozes pedindo de diversas formas que se abram os corações. Que deixem entrar toda a pureza que ficou subjugada no restante do ano, espremida no calendário.

E o Natal ecoa, e ecoa, e ecoa. Se os ouvidos se permitirem ouvir, acontecerão muitos ecos nos meses seguintes. Não acontecerão todo dia, é verdade. Teremos dias e dias de total anti-Natal particular também. Mas entre um e outro não, há os sins.

E aí vive-se o Natal que eu acredito. Sem data, sem motivo, só coração.


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terça-feira, dezembro 11, 2007

Scent of a man


Foi o perfume que me fez dormir.
Sim, eu tinha sono
queria dormir
iria dormir
Mas a essência suave que vinha do travesseiro me embalou
me tirou da consciência de sins e nãos
me levou para o pulsar do mundo dos sonhos
etéreamente.
Flutuei nuvens na sensação da pele que usou o perfume
encostada no meu rosto
Fechei os olhos e já não queria mais dormir
Sim, tinha sono
Iria dormir
Mas queria mais.
Queria me fundir ao aroma do perfume
Diluída, leve, mareada.
Sorri e dormi
abraçada pelo perfume que ficou no travesseiro.

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segunda-feira, dezembro 03, 2007

Da Igualdade e das Diferenças


Já nos foi dito pelo Mestre para amar o próximo como a nós mesmos.

Acho que Ele quis dizer para amar o próximo - leia-se tratar, olhar, receber, ouvir, descobrir, respeitar, entender o próximo - da maneira como nós gostaríamos de ser amados por nós mesmos.
O trabalho é árduo e o caminho, extenso. Amar a nós mesmos não veio no pacote.
Como tudo de importante, é uma conquista, porque há formas e formas de amar. Para descobrir a melhor, dentro de cada um, há que se travar um combate. O combate das forças opostas que nos habitam.


Será que, por isso é tão difícil oferecer ao próximo, e ao seguinte, e ao outro, um olhar amoroso sobre ele? .
*
In a sky full of people
only some want to fly
isn't that crazy?
('Crazy', Seal)
*
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quinta-feira, novembro 29, 2007

Para deixar viver




Hoje eu fui a uma escola estadual.
Coisa banal, nada demais ao primeiro olhar.
Simples, localizada num bairro bastante humilde e mais humilde ainda em atenção. De todos.
Da prefeitura, dos conterrâneos, de si mesmos. Uma escola como outra qualquer, cheia de crianças como outras quaisquer aprendendo o ensino básico. São apenas um pouco diferentes do que eu fui. Tão crianças quanto, tão lindas quanto toda criança é, tão cheias de personalidade e vontade por sorver o mundo quanto toda criança quer ser. Cheias de olhos e espanto. Cheias de exclamações e entusiasmo. Com algumas histórias a mais para contar.
O motivo da minha ida foi fazer a cobertura fotográfica do uso, em sala de aula, de uma cartilha anti-drogas - projeto da polícia federal - que a empresa para a qual trabalho ajudou a patrocinar. Terceira e quarta séries, o equivalente em faixa etária nesta escola à segunda e quinta séries, respectivamente. Crianças de 8 a 11 anos.
De início, na entrega das cartilhas, houve alguma resistência por parte de coordenação e diretoria, já que, aparentemente a introdução das cartilhas no plano de ensino atrapalharia o planejamento inicial. Entendi que isto mudou com o passar dos poucos meses, visto que foram vários os trabalhos desenvolvidos em sala e maiores ainda as manifestações das crianças sobre o tema, durante as aulas.
A proposta da cartilha é de, através de histórias e desenhos para colorir, orientar as crianças para que não se deixem enveredar pelo caminho das drogas. A sugestão era de que, através da espontaneidade e criatividade, o tema fosse abordado de forma livre. A partir disso, surgiram desenhos, letra de rap - que apresentaram para mim, orgulhosos - , discussões e muitos, muitos relatos.
Nada na cartilha era novidade para as crianças. Teve aluno ensinando aos colegas como enrolar o cigarro de maconha ou fazendo demonstração prática com o giz moído, como se fosse o próprio pó. Nada que o pai, mãe, tio, irmão, primo, vizinho já não tivesse dado exemplos claros de como fazer.
No pouco tempo de conversa com as professoras, me resumiram brevemente depoimentos variados. O pai e a mãe que usavam cocaína em casa, junto ao filho que, questionado sobre o que dizia, perguntou à professora o que poderia fazer sendo apenas uma criança. O comentário de que o pai era um "traficante pesado" nas palavras do próprio aluno, e a mãe uma usuária. A menina que descreveu como era difícil para a mãe "aguentar transar com o pai" quando consumia droga e voltava para casa totalmente alterado. A avó e mãe do aluno detidas - retiradas pelo camburão de dentro de casa - por tráfico. O pai que sumia por três dias quando "enchia a cara" e precisava ser trazido de algum lugar do meio da rua, arrastado. Desde o menino que precisou ser afastado, aos 12 anos, por agredir os colegas em suas crises de abstinência em classe até o menino que pede todos os dias à professora para levar para casa um pedaço de papel higiênico, pois "gostava de ir ao banheiro de manhã" mas não tinha papel em casa. Os pais trabalham mas aparentemente, tem alguns vícios para sustentar, estando impossibilitados de abastecer a casa devidamente. Sem falar nos comentários mais genéricos das crianças que expressam suas dores através de sinais velados nos desenhos que fazem, da disciplina - no melhor sentido de educação - que abertamente só encontram na escola, entre outras histórias de vida.
Quase todas as crianças, durante o tempo em que estive lá, encontraram em meio a esta realidade, tempo e disposição para sorrir animadamente pedindo flashes e mais flashes. Lindos e inesquecíveis. Ainda telas em branco. Com manchas e dores adultas, mas ainda, em branco.
Há um consenso entre elas de que o uso das drogas não é legal. Ainda há. Por incrível que me pareça, há.
Saí dali com o coração mais cheio, me perguntando quanto tempo mais até que deixem de resistir a este caminho torto. Quanto tempo mais para que ainda tenham uma chance justa à vida com oportunidade para a qual eles nasceram. Quão fortes deverão ser para que a sua oportunidade não seja tirada por ninguém, mesmo que este alguém lhes tenha dado a vida.



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segunda-feira, novembro 26, 2007

Íntima



ela menstrua
sangra fluidos que o corpo não quis
sangra semente não plantada
chora vermelho por entre as pernas


discretamente
sangra a vida que ninguém vê


É mesmo um mundo de homens - nos cartazes
Se menstruassem o sangue seria carnaval
E todo carnaval, santificado


mas é só ela
que sangra miúda em dores e humores
satisfeita
por não ser descoberta
a menstruar.


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sábado, novembro 24, 2007

Para antes de morrer

Em "Antes que você morra", entre muitas outras viagens, Osho nos leva nesta:

A primeira vez em que se ouviu falar do Mestre Shibli foi quando Mansur Al Hillaj estava sendo assassinado. Shibli era companheiro e amigo de Al Hillaj. Muita gente foi assassinada em tempos passados pelos pretensos religiosos. Jesus foi morto...mas nunca houve um assassinato como o de Al Hillaj; esse foi o mais terrível de todos. Jesus foi simplesmente crucificado, mas Al Hillaj não foi simplesmente crucificado. Ele foi crucificado, mas primeiro lhe cortaram as pernas - e ele estava vivo - e depois as mãos; foi verdadeiramente torturado. Em seguida, sua língua também foi decepada e seus olhos arrancados - e ele ainda estava vivo. E depois cortaram o seu pescoço e o fizeram em pedaços. A primeira vez que se ouviu falar de Shibli foi nesse momento. Cem mil pessoas estavam reunidas para jogar pedras e ridicularizar Mansur. E que crime teria ele cometido? Que pecado havia cometido? Ele não havia cometido qualquer pecado, qualquer crime. Seu único crime foi o de ter dito "Anal Hak", que significa "Eu sou a verdade, eu sou Deus". Se ele estivesse na Índia, o povo o teria adorado durante séculos. Todos os videntes dos Upanixades declaram isto: "Aham Brahmasmi" - "Eu sou Brahma, o Eu Supremo". Anal Hak não é outra coisa senão uma tradução de Aham Brahmasmi. Mas os muçulmanos não podiam tolerar tal coisa.
(...) Mansur é um dos maiores Sufis. Nenhum outro homem na tradição Sufi é comparável e ele. E ele foi assassinado. O povo estava atirando pedras nele, e Shibli estava no meio da multidão. Mansur estava rindo e achando graça. Quando deceparam seus pés, ele apanhou o sangue nas mãos e as lavou com ele, assim como os muçulmanos fazem com a água - wazu. E alguém da multidão perguntou: "O que você está fazendo, Mansur?".
Mansur respondeu: "Como é que se pode fazer wazu com água? Como se pode lavar-se com água? - porque o crime você cometeu com seu sangue, o pecado você comente com sangue, então como se pode purificar com água? Só o sangue pode ser a purificação. Estou purificando minhas mãos, estou me aprontando para a oração."
Alguém riu e disse: "Você é um tolo! Está se aprontando para a oração? Ou está se aprontando para ser assassinado? "
Mansur riu e respondeu: "A verdadeira oração é isto - morrer. Vocês estão me ajudando na minha oração final, a última. E este corpo não pode fazer nada melhor, não pode ser usado de forma melhor - vocês estão me sacrificando no altar do Divino. Esta será minha última oração no mundo."
Quando começaram a decepar suas mãos, ele disse: "Esperem um instante! Deixem-me orar, porque quando eu não tiver mais as mãos, será mais difícil." Então olhou para o céu, orou a Deus e disse: "Perdoe estas pessoas, porque não sabem o que fazem". E falou a Deus: "Você não pode me enganar, seu grande enganador! Eu posso vê-lo em cada pessoa presente aqui. Está tentando me enganar? Você veio como o assassino? Como o inimigo? Mas eu lhe digo, você não pode me enganar, eu o reconhecerei sob qualquer forma que apareça - porque o reconheci dentro de mim mesmo. Agora não ha´possibilidade de engano."
As pessoas atiravam pedras e lama, e Shibli estava ali. Mansur estava rindo e sorrindo, e de súbito começou a gritar e chorar, porque Shibli havia jogado uma rosa em Mansur. Pedras - ele ria. Uma rosa - começou a chorar e a gritar. Alguém perguntou: "O que aconteceu? Com pedras você ri - ficou louco? Shibli atirou apenas uma rosa. Por que você está chorando e gritando tanto?"
Mansur respondeu: "As pessoas que estão atirando pedras não sabem o que fazem, mas este Shibli tem que saber. Para ele será difícil obter o perdão de Deus."
Shibli era um grande sábio erudito, conhecia todas as escrituras. Era um homem de conhecimento. E Mansur disse: "Os outros serão perdoados, porque estão agindo na ignorância, não podem evitar. Não importa o que façam, esta´bem. Na sua cegueira, é tudo que podem fazer, não se pode esperar mais do que isso. Mas Shibli - um homem que sabe! Um homem de conhecimento... será difícil para ele obter perdão. Eis porque eu choro e grito por ele. Ele é o único aqui que está cometendo pecado. Ele sabe! É por isso".
Isto é algo a ser compreendido. Você não pode cometer pecado quando você é ignorante. Como pode cometer um pecado, quando é ignorante? A responsabilidade não está em você; mas quando você sabe, então a responsabilidade está presente. O conhecimento é a maior responsabilidade, o conhecimento o faz responsável. E esta afirmação de Mansur transformou Shibli completamente. Ele se tornou um homem totalmente diferente. Jogou fora o Alcorão, as escrituras e disse: "Elas não me puderam fazer entender nem isto: que todo conhecimento é inútil. Agora vou procurar o verdadeiro conhecimento". E mais tarde, quando lhe pediram que comentasse a afirmação de Mansur, perguntaram: "Qual era o problema? Por que você jogou a flor?" E Shibli respondeu: "Eu estava na multidão e fiquei com medo dela - se não jogasse algo as pessoas poderiam pensar que eu pertencia ao grupo de Mansur. Podiam pensar que também sou companheiro e amigo, podiam se tornar violentas comigo. Eu não podia jogar pedras porque sabia que Mansur era inocente, mas também não tive coragem suficiente para não jogar nada. Eis porque atirei a flor - apenas um comprometimento. E Mansur estava certo ao chorar: chorou pelo meu medo, pela minha covardia. Chorou porque todo o meu conhecimento e tudo o que acumulei a vida toda fora inútil - eu estava comprometido com a multidão".
Todos os eruditos são cúmplices da multidão, são comprometidos com a multidão, por isso é que você jamais ouviu falar de um erudito crucificado por ela. Eles são seguidores da multidão, sempre se comprometem, E a sua cumplicidade é esta: curvam-se quando comparecem diante de Buda ou de Mansur e também se curvam diante da multidão. São gente astuta, muito astuta.
Mas Shibli mudou completamente, ele compreendeu. O sentimento de Mansur por ele e os soluços de Mansur se tornaram uma transformação.
E mais tarde Shibli se tornou um Mestre por seu próprio direito. Levou pelo menos doze anos para isso, perambulando como um vagabundo, um pedinte. E as pessoas perguntavam: "Por que você anda por aí? De que se arrepende?" - porque continuamente ele batia no peito, chorava e soluçava. Quando entrava na mesquita, chorava tanto que todos da aldeia se reuniam. Era tão comovente, uma angústia tão grande, que o povo perguntava: "O que você está fazendo? Que pecado cometeu?".
E ele dizia: "Matei Mansur. Ninguém ali era responsável, mas eu poderia ter compreendido. E joguei uma flor nele, comprometi-me com a multidão, fui covarde. Eu poderia tê-lo salvo, mas perdi o momento. Eis por que me arrependo."
Ele se arrependeu a vida inteira. O arrependimento pode ser tornar um fenômeno muito profundo, se você compreende a responsabilidade. Então, mesmo uma coisa pequena, caso se torne um arrependimento...não apenas verbal, não apenas na superfície; se atinge fundo suas raízes, se você se arrepende desde as suas raízes, se todo o seu ser se sacode, treme, chora e as lágrimas brotam; não apenas de seus olhos, mas de cada célula de seu corpo, então o arrependimento se torna uma transfiguração. Este é o significado do que Jesus repetidas vezes diz: "Arrependam-se!".
O mestre de Jesus, João Batista, não tem muito mais a dizer. Toda a sua mensagem se resume em: "Arrependam-se!" - porque o Reino de Deus está próximo. Ele já vai chegar - arrependam-se antes disso!". O arrependimento - não só mental, mas total - limpa e purifica. Nada pode purificá-lo tanto, ele é uma fogueira, queima todo lixo que existe em você.
Os soluços de Mansur perseguiram Shibli continuamente durante toda a sua vida. Acordando ou dormindo, as lágrimas de Mansur o perseguiam. E isso se tornou uma transformação. Isso é o que um Mestre, somente um grande Mestre, pode fazer - e Mansur o fez. Mesmo quando estava morrendo, transformou um homem como Shibli. Mesmo morrendo, usou sua morte para transformar este homem. Um mestre continua, vivendo ou morrendo, ou mesmo depois de morto, continua usando todas as oportunidades para transformar as pessoas.

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Agora vejo em parte, mas então veremos face a face - O indiano Osho, tornou-se professor de filosofia e trilhou o caminho da descoberta da eternidade - fora das "memórias do passado e da antecipação do futuro" desde muito cedo. Aprendeu e desenvolveu técnicas de meditação e saiu pelo mundo em busca de difundir e aprimorar conhecimentos, e encontrar pessoas. Tido como louco em seu tempo e como lenda após o final de sua vida, Osho não acreditava na mortalidade. "Nunca nasceu, nunca morreu. Apenas visitou este planeta Terra", dizia sua cripta.

Como a Bíblia e outros livros-guias de grandes Mestres, os escritos de Osho são (para mim) metáforas de interpretações inúmeras. Jamais acreditei na leitura literal que muito se insiste em fazer deles e no conceito de culpa e arrependimento que a igreja católica, entre outras, se empenha tanto em divulgar. Da forma como foi contado aqui, me soa muito mais como uma tomada de consciência verdadeira, um caminho para a descoberta de algo maior dentro de nós mesmos.
Tudo o que vale a pena ler está nas entrelinhas.

Namastê.


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quinta-feira, novembro 22, 2007

Wondering


Em anos e anos vividos consegui acumular talvez, um grão de sabedoria.

Me tornei a versão mais amadurecida da mesma alma. Descobri alegrias, esqueci dissabores, semeei interrogações, exclamações e reticências.

Assisti entrarem e saírem companheiros de cena. Improvisei meu balé e sorri aos aplausos que me surpreenderam.

Abri-me. Ansiei por viver com mais voracidade. Ansiei por viver com mais serenidade.

Vi brotar pequenas sementes já esquecidas e vi sair a terra firme debaixo dos meus pés.

Me assustei e me senti pequena e com medo. Me agigantei além do que poderia me supor capaz.

Cantei a plenos pulmões nas melhores e piores épocas e tenho a certeza que, de tanto cantar atraí algumas coisas para a minha vida. Afastei coisas da minha vida também. Nem sempre más.

Seria saudosismo ficar olhando para trás , constatando o que já foi feito? Minha alma sabe ter 90 anos quando quer.

Meu ser vem aprendendo a se desligar um pouco de mim. Minha cabeça aponta direções que ele nem sempre quer seguir e firma pé na sua própria verdade.

Senti o mundo mais próximo e mais distante. Senti que meu coração bate, a cada dia mais, apenas para descobrir como viver no seu mundo, este que vai sendo descoberto. Meu coração quer descobrir mundos novos.

Senti falta de sonhar mais. Foco, é bom homeopaticamente. Em excesso, estraga a aura e é tão preciso brincar de ser gente grande, mas sem se deixar ficar muito no papel de adulto. É um lugar para se visitar, não para habitar.

Me ocorreu que pagar insultos na mesma moeda é um caminho rápido para nos deixar igual ao agressor: feio e pequeno. Me ocorreu também que, depois de escolher não pagar na mesma moeda, posso tranquilamente não desejar qualquer pessoa que seja na minha vida. Isto não seria ruim. Ruim, seria acumular, além dos meus próprios vícios de comportamento, impurezas que não são minhas para cuidar.

Sonhei muito e muitas vezes. Espero por muitas mais. Sempre quis beber e me embriagar da fonte que alimenta os sonhos: comportamentos, pensamentos, sentimentos que ajudassem a sonhar.

Me perdi do caminho dos sonhos e o reencontrei. Fui e voltei nesta verdade tantas vezes que nem sei.

Observei pessoas ao meu redor. Pessoa no espelho. Constatei que não importa o quanto tudo sempre mude, algumas coisas não mudam jamais. Temperamentos não mudam. Índoles não mudam. Eu poderia tentar me acertar um pouquinho então, com a personalidade, e tentar me acertar um pouquinho com a personalidade das outras pessoas também.

Vi amores mais duros e amores mais suaves. E vi que não conseguiria saber qual a melhor forma de amar. Só encontraria as formas de amar que cada um conhece e pode, inclassificáveis.

Amarguei a falta que sempre senti de coisas que não sei o nome. Adocei a falta.

Celebrei a presença do que está e esteve diantes dos meus olhos e dentro do meu espírito.

Minha alma às vezes gosta de ter 90 anos. Já olhou muito para trás e para adiante.

Mas já olhou muito também, para os lados e para dentro de si mesma. Já fechou muito os olhos e apenas se deixou ser.

Meu grão de sabedoria já me serviu. E também já serviu só para eu não querer ser sábia, e apostar.
Escrevo textos na primeira pessoa para que eu soe um pouco mais viável para mim mesma ao dizer estas coisas. Sou uma saudosista que está apenas começando.


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segunda-feira, novembro 19, 2007

Puro Sangue


Ser humano é antes de tudo, ser animal. Racional, sim. Capacitado de discernimento, sim, embora por vezes nada lógico. Mas, um animal.
E disso não se deve esquecer jamais.
Feito de instinto, percepção e vontades inexplicáveis. Capaz de contradizer e contrariar suas próprias crenças a todo momento. Capaz de perder interesse no que já lhe foi essencial. Capaz de atrair-se pelo que já lhe repeliu. Capaz e imprevisível, sobretudo para si mesmo.
Nuance de cores puras. Tons vivos e pastéis da própria aquarela.
Usa a razão para se provar que acredita em valores pré-determinados e rompe com tudo quando surgem novas paisagens.
Bicho do mato. Fera na gaiola. Pássaro solto. Homem.
A evolução natural de uma espécie que escolhe seus parceiros pelo cheiro. O retrocesso elementar de uma raça que não mata para comer.
Este ser, humano e imperfeito que educa a cria à sua própria imagem e semelhança , justificando que é este o seu Deus.
Vive em terras de ninguém e faz as suas leis se chamando de civilizado. Se cerca de espelhos para não enxergar o selvagem que lhe habita.
Se cobre de grifes, perfumes, personas, circunstâncias, mas nunca consegue se explicar. É o sol, quando beija de leve a face da lua. É a lua, quando se entrega à noite em silêncio.
Assiste impassível ao choque de seu campo magnético com o campo magnético de seus semelhantes. Nunca igual, sempre buscando alguma identificação.
É o vento que sopra de repente e desarruma laços feitos para durar. Mostra garras e dentes quando ameaçado e defende o diálogo, na teoria.
É talvez o único animal que não se reconhece animal.
Nega-se. Omite sua natureza. Venda-se.
Quando só, ruge lamentos de uma alma que pouco enxerga. Quando em pares, dança sinuoso criando ritos de conquista. Quando em bandos, imita inconsciente outros animais.
Erra sempre, mas jamais enumera seus erros.
Considera apenas as vitórias. Profano, ateu, inveterado pecador. Goza de todos os seus prazeres e lambe feridas que ele mesmo causou. Fere. Cura. Quer.
Disfarçado, inexplorado, adormecido, mas sim, um selvagem.
E disso não se deve esquecer jamais.
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terça-feira, novembro 13, 2007

Espelhos

Foto: Vanderlei Martinelli

Perguntam sem a menor cerimônia "quem sou eu", como se não fosse falta de respeito colocar uma pessoa contra a parede assim.

Como se esta fosse uma pergunta para a qual existisse resposta.

E lá vou eu. Vou fazendo perguntas para as quais não conheço a resposta. Acho que isso é bom, às vezes. Sinto que isso me enlouquece, quase sempre.

Não saberia o que fazer com as respostas anyway. Tento hoje viver as perguntas, uma de cada vez, quando dá.
A cada vez que caio, penso que esta será a oportunidade perfeita de, desestruturada, encontrar meu eixo. Me engano. Meu eixo muda de lugar constantemente :)
Vejo realização e beleza em detalhes. As coisas tidas como pequenas me interessam, vejo que está nelas a pista mais próxima para se encontrar grandes verdades. Pena que me disvirtuo também, destas belas pistas. Vai ver nem é pena. Lamentar pra quê, se toda porta fechada vira uma janela aberta?

Sei que não enxergo o mundo como ele é, enxergo o mundo como eu sou. E dá-lhe reflexões e encucações. Aí, chega a hora em que desencano de tudo. Aprendi a leveza também. Aprendi que a leveza é onde me sinto bem, que carregar pesos milenares não combina com a pessoa que eu quero ser.

Escorrego nas minhas próprias determinações. Tenho na ponta da língua a teoria de como algo deve ser, mas a prática me sacaneia todas as vezes.

Me enxergo maior do que sou. Me enxergo menor do que sou. Não tenho a noção do meu tamanho real.

Fico para morrer de indignação e sofrimento quando alguém me decepciona e me fere. Aí lembro que ninguém veio ao mundo para atender às minhas expectativas de como agir, e isso me consola por um tempo.

Tenho um sol na terra e uma lua no ar , privilegiadamente, que me mostram como a vida pode ser diferente do que se imagina, inclusive pra mim.

Acho que a generosidade é a melhor de todas as qualidades. Acho que a omissão é o pior de todos os defeitos.

Gostaria que todo amor durasse para sempre. Mesmo transformado, mesmo longe, mesmo arranhado. É curioso oferecer amor. Um dia, daqui a muito ou pouco tempo, pode ser que os amados não estejam por perto. Nem longe, nem em lugar algum. E o amor fica lá. Vivo, mas condensado a uma embalagenzinha que o deixa com braços e pernas de fora. É teimoso, mas só cresce onde recebe espaço. O amor gosta de se esticar e tomar conta de tudo, mas não tente desmerecê-lo porque ele também sabe ignorar.

Eu perco tempo. Ah, como eu perco o meu valioso tempo. Jogo fora minutos, horas, dias para gastar energia com assuntos que não justificam a minha atenção. Demoro para me desenrolar de amarras pequenas. Enfrento melhor as amarras grandes. Mas gosto mesmo quando corro solta, feliz, tranquila, entusiasmada e acesa pela vida.

Gosto de mim mais do que deveria e menos do que poderia.Gosto demais das pessoas mas não me sujeito a elas.

Não gosto que caçoem de mim. Adoro que brinquem comigo.

Acredito que o compromisso maior da vida de cada um seja com o seu íntimo. É para ele que prestamos contas todos os dias. Em nome disso, é essencial viver para estar de bem consigo mesmo e tentar sempre, na medida do possível, estar de bem com quem a gente quer bem.

As pessoas não ficam para sempre por perto, por isso a grande sabedoria é usar intensamente o tempo que tivermos com elas. Tudo passa. Quase todos passam. Mas aquilo que fica e aqueles que ficam, valem cada minuto da nossa dedicação.

Relacionamentos não podem ser algemas. Quando impedem - ou quando nós os usamos como impedimento - de alçar novos vôos, nossa alma se enruga pequena e exige mais. A vida responde, sempre.

Me renovo sempre que consigo. Gosto demais do novo que se abre, mesmo que ele me meta um medo danado. Gosto do que me é familiar também. Gosto de gostar, mas tenho grandes impulsos de desgostar.

Não sou fácil, mas a minha mãe diz que o fácil já está feito.



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sábado, novembro 10, 2007

12 de novembro de 1973

Você nasce todo dia.
Renasce inteiro, de olhos despertos, atentos para o sentimento do mundo.
Tem gente que veio ao mundo a passeio. Tem gente que veio para batalha. Tem gente que veio para impor, dificultar, separar, deprimir, enfeiar. Tem gente que veio para ser peça de decoração, adorno que não tem participação. Tem gente que não se sabe gente, não assume sua grandeza e suas mesquinharias.
Você veio para ser. Para encontrar, perder, sorrir, chorar, procurar, descobrir, acrescentar, acalmar, esquentar, aproximar, encantar, duvidar, começar, desenvolver, evocar, superar, emanar, cultivar, adoçar.
Nascer é mudar de estado. Nascer é encontrar a saída. Nascer é atravessar o caminho. Nascer é fazer parte. Nascer é encarnar o individual e o coletivo.
O mundo se apresenta como quer e pode. E o mundo pode tudo. Você o recebe como sente e quer. E você quer tudo.
Dançam, o mundo e você. E você conta do seu mundo. Canta o mundo nos seus versos e reversos e nas rimas encontra as casas onde deseja morar.
Ama demais e sempre.
Deixa-se abraçar pela mágica e pelo místico de cada coisa prática.
Oferece colo quando a vida exige tanto que não se pode suportar. Oferece riso, beijo, cor, sabor, alma, chão.
Mostra o arco-íris e seus potes de ouro. Mostra que ouro bom é aquele que brota das flores, dos toques, dos sorrisos brilhantes que os olhares têm para oferecer.
Diz verdades das quais sempre duvida e as lança no universo para que retornem, se quiserem. Dói como a carne exposta que encontrou o espinho impiedoso. Seca feridas permitindo que não deixem de existir porque sabe que são dos melhores registros da sua história. E registra alegrias. Pequenas, imensas, indizíveis, totais.
Sorri menino e chora criança. Sonha como sempre se pode sonhar. Anseia por saudades de épocas idas e inéditas.
A vida virgem lhe seduz e a história construída lhe sustenta.
Concebido em terra de feitiços, alça vôos que desafiam territórios na alquimia de sua esperança.
É e se faz.
Presente para quem lhe enxerga. Fé e luz para quem lhe pode conhecer.
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quinta-feira, novembro 08, 2007

Se dê motivo


Expressar é a essência maior e primeira de ser humano.
Para cada pessoa isto pode vir de forma diferente, é certo. Ou nem vir. Mas ela ainda estará lá. A necessidade absoluta de expor o íntimo de alguma forma.
Veja que para expor, não é preciso escancarar. Expor pode conter imensa sutileza e abstração. Escancarar, não – que escancarar, em certos casos, é apenas deselegância em forma de expressão. A carência também faz escancarar, mas toda carência será perdoada, visto que é expressão frustrada, preterida.
Uma auto-análise franca pode mostrar que tudo o que é dito ou feito, vem vestido unicamente numa tentativa de colocar para fora um aspecto, uma nuance, um momento que insistia para ser descoberto. E, ao descobrir, dá-se a ele uma face nova, também diante daquele que o expôs.
A expressão do que existe de melhor, pior, maior e menor dentro de um ser é o que faz com que se chegue cada vez mais perto de enxergar e experimentar quem se é.
Conversas, composições, criações, registros, interpretações. Tudo é veículo para seguir o caminho que, saindo de dentro, leva para fora e, paradoxalmente, traz de volta para si.
Cantar uma canção ou criar um blog. Montar um painel de fotografias ou entrar para uma banda. Publicar um livro ou ligar para um amigo. São tantas e tão variadas as formas buscadas e encontradas pelas pessoas para serem vistas, ouvidas, percebidas, sentidas. A internet, crucificada e adorada, já constitui sozinha um veículo inestimável de conectar expressões que, de outra forma, talvez jamais se alcançassem.
Ser humano, é função que gira, a todo tempo, em torno de comunicar encantos e desencantos dos recantos interiores.
Comunicar é impreciso como viver. E tão necessário quanto.
Respiração através da qual entra e sai o alimento para sustentar existências que com este, talvez nunca precisem de outro significado. Sozinho, este ainda teria sido um significado invejável que um sem número de pseudo-comunicólogos, profissionais ou amadores, não sonha em atingir.
Na lapidação da expressão como prática, afloram a ânsia, a curiosidade e o gosto pelo saber. Se a expressão ganha espaço, aumenta também a procura por novas descobertas e cria-se um círculo virtuoso de ganhos inestimáveis para a essência que busca existir verdadeiramente.
Comunica-se para se sentir vivo, inteiro, necessário, produtivo, realizado, integrado, visível. A comunicação de um para consigo, de um para outro e de um para todos, valida a sua passagem por este mundo, alicerça o vôo de buscar mais e além.
A satisfação em trazer à luz um momento qualquer que vinha existindo apenas na privacidade inalcançável de uma alma, impulsiona intenções e arrebata o indivíduo para um nível de existir no qual ele enxerga a sonhada perspectiva de encontrar-se, afinal. De ser, de assenhorar-se do seu território, de farejar o motivo pelo qual está aqui.

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segunda-feira, novembro 05, 2007

Aceno do lado de fora



Essa alma fica aqui dentro
querendo se desmanchar em pétalas
aqui fora.

Há mudas que brotam

ou secam falando demais

Vidas me tocam
mas a indiferença me persegue.
Mão dada com meu Deus
Olhos nos olhos dos meus demônios

Ouvir. Respirar. Desapegar.
Mais ramos verdejando a janela de folhas abertas.


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Refugee



Um refúgio
da loucura do mundo

Na minha loucura
me refugio.

A loucura que é minha
consiste em viver num faz-de-conta
Onde nada se pôde ganhar ou perder.
Tudo sempre esteve no seu lugar.

E vão-se as sementes evoluindo de si mesmas
Vai o vento navegando em suas próprias curvas
Vão os mortais reconhecendo suas faces e circuitos.
Nada além do que já estava desenhado nas nuvens.

Nas escolhas desvendam-se os contornos, inabaláveis.
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segunda-feira, outubro 29, 2007

Resiliência


Ser fiel a si mesmo é um paradoxo.
Primeiro, porque as verdades são mutáveis e transferíveis, e estão totalmente condicionadas às circunstâncias.
Que tipo de pessoa não muda de idéia? "Si mesmo", portanto, está sempre mudando e ser fiel cabe na constância.
Vale mais ser autêntico. E livre. Até para manter as antigas idéias, se for o caso.

Segundo, porque para chegar a caminhos que nos levam a nós mesmos, temos frequentemente que aturar o insuportável. Passar provas de fogo diárias e sem sentido.
Temos que conviver com pessoas que não nos interessam, aceitar concessões que nos diminuem perante ao nosso próprio eu, nos curvar à vontade de gente despreparada, nos submeter aos impulsos de mentes mal intencionadas. Tudo isso para passar de um momento a outro. Do agora para o depois.

Por que? Porque se o barco sempre for abandonado quando as condições são adversas, nos veremos voltando sempre ao mesmo ponto de fugir quando alguma coisa nos desagrada. E onde fica o caminho até o fundo de si mesmo nisso, se estaremos de novo e de novo parando no mesmo lugar e voltando ao início?

Há pessoas que se vangloriam de ser "francas".
"Falo mesmo." - dizem.
E enquanto falam, não ouvem. Não refletem, não vêem o outro, não enxergam a diferença, não admitem vida inteligente longe do seu umbigo. Doa a quem doer, é o seu lema. Desde que não doa nelas. Bem...aí então, não é franqueza, é medo. Atacam para não ouvir verdades. Para não ouvir coisa alguma, aliás.
Há pessoas que se vangloriam de ser "equilibradas".
Não optam pelo confronto direto nem para salvar a vida. E nisso, ou dissimulam coisas que não pensam ou omitem a totalidade do que lhes vai no pensamento para poder sempre recorrer à defesa de dizer que "não foi o que disse, quem pensou isto foi você" . Tudo para não sair do conforto do alto do muro.

A vida seria tão mais prazerosa se os super francos nos poupassem ocasionalmente dos seus chiliques e se os super equilibrados nos brindassem vez ou outra com a sua opinião.
É o paradoxo e o preço de ser "fiel a si mesmo".
São tantas as oportunidades perdidas e muitas as situações onde esta fidelidade toda é uma excelente desculpa para não abandonar o casulo e voar para maiores horizontes.
Voar dá trabalho e só decola quem souber que terá de fazer por merecer.


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quinta-feira, outubro 25, 2007

Derramada



Caem as águas enfim
ora mansas, ora velozes

O vento, na minha pele
inventa tons de mim maior

Felizes verdejam as folhas
que ensaiam bailados improvisados

Pés, sem sentido
saltam poças-espelho do seu riso

Ares, novos e belos
desenham calmaria nas respirações

Meninas de olhar o céu
rezam esperanças de continuação

No estio da seca amarga
chove alívio no estender das mãos.


Água, benta e muita
fruto das forças do ventre luz.
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terça-feira, outubro 23, 2007

Admita uma coisa que te meta medo de verdade




EU SOU REBELDE.


Odeio secretamente (porque odiar é politicamente incorreto e faz mal pra alma) gente que, de qualquer maneira que seja, quer punir, excluir, cercear, inibir, coagir, comprometer ou prejudicar alguém por não ser da forma que julga mais adequada para a sua visão turva pela lama do chão onde se rasteja.
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quinta-feira, outubro 18, 2007

Infernal não é o capeta

Foram dar uma volta, os sonhos.

De cabeça exaurida,
a emoção comprimiu.
Feia, enrugada.

\
- Par de asas para viagem, por favor?
Para todos os tipos de viagens.
Astrais, físicas, quânticas.
Le-vi-ta-ção.

\
Ação é a coragem que parou de pensar.
Inércia é a ação que esqueceu de existir.
Ira é o despertador da coragem.
O cansaço é colchão para cochilar, enquanto isso.
\
Semente seca pulou da terra e suspirou o céu.
Os sonhos, a passeio
acenaram do lado de lá
- Já vou! Deja vú
\
Aguardados a qualquer momento no pavilhão principal.
Deixe seu recado, após o sinal de adeus.

- Tu, tu, tuuuuuuu...

segunda-feira, outubro 15, 2007

Podes Crer

É fato.
Daqui a um ano, 10 meses, você vai olhar para trás e enxergar, nítido como um sonho bom, pessoas que se tornaram fantasmas na sua vida. Fantasmas camaradas. Será que seriam, então, anjos?
Vai enxergar eras idas, cores, sons, sensações, realidades. Vai reviver uma vida que não é a sua vida de agora.
Serão rostos, vozes, histórias que se impregnaram na sua história sem pedir licença e saíram com a mesma falta de cerimônia.
Lembranças de elos, de companhias na batalha, de parceiros de canção. Finais trágicos, finais insossos, finais inevitáveis, finais preveníveis. Finais.
Eis que ficaram numa época onde tudo era outro. Ficaram na sua própria época, sem deixar de ecoar. Não são assim os fantasmas?
Penam, que pena. Que assombro que assombrem mesmo idos.
Mas é natural. Você também há de ser fantasma na vida de alguém. Ainda que já tenha ido muito, muito além. Que tenha sido quase sobre-humano. Um anjo, então?
Criatura de outra esfera, de pedra, de algodão. Doce penar de almas de outrora.
Pena também a sua, mas crê nos anjos que ainda virão.

"É tão forte quanto o vento quando sopra
tronco forte que não quebra, não entorta
Podes crer, podes crer
Eu tô falando de amizade"
(Podes Crer, Cidade Negra)

segunda-feira, outubro 08, 2007

To Remember

A gente se esquece tão fácil de quem é.
A gente se esquece fácil que, para lembrar de quem é, ajuda muito olhar para o que foi.
Lembrando dos caminhos por onde passou, dos desfiladeiros, dos penhascos, das turbulências, das gargalhadas, dos êxtases, fica um tanto mais simples ir se desprendendo de emoções, de formas de reagir viciadas que já não servem mais e têm a única função de enrugar o espírito e a face.
Não é preciso a gente se prender ao passado, mas , reconhecê-lo e relembrá-lo nos fortalece para descobrirmos todos os dias para onde queremos ir.
Ter presentes os lugares de onde já saímos, nos renova e nos faz respirar o ar das trilhas novas pelas quais queremos evoluir.

Crescer é preciso.

terça-feira, setembro 25, 2007

Nenhuma Unanimidade



Dizer que não sou nenhuma unanimidade é exagero. "Muito longe de agradar" corresponde mais ao meu perfil.
Este e milhares de outros "pensamentos que penso quando não estou pensando" cruzavam minha mente durante dias mesclados de tumulto e ira intensos, e ternura desmedida.
Dias repletos de pessoas equivocadas e maldosas , e simultâneamente, recheados de mais amor e carinho do que qualquer pessoa possa merecer. E não é preciso muitas pessoas descuidadas pra fazer estragos, nem tampouco muitos olhos atentos e plenos de calor para fazer crescer uma alma. Felizmente amor e carinho não têm nada a ver com merecimento, que é relativo demais.
E amor é engraçado. Ao mesmo tempo em que a gente quase exige que as pessoas nos amem, sente-se desmerecedor. Acha que erra demais para que este amor - o único, o incondicional - possa de verdade vir morar na nossa casa. A gente mal enxerga o braço sempre estendido na nossa direção, o ouvido sempre pronto para as nossas dores. A vontade sincera de saber como foi o dia, se tudo está mesmo correndo bem.
O amor, aquele incondicional, não se encontra no atacado...é uma pena. Adoraria quilos e quilos de amor, vindo de todas as direções. De colegas de trabalho, de amigos dos amigos, de vizinhos. Mas o amor é um grau de intimidade superior. É preciso ser muito íntimo para amar.
Para detestar, por outro lado, não precisa muito. Vem naturalmente, sem esforço, e qualquer coisa pode ser um bom motivo. Até os grandes motivos.
Estar "muito longe de agradar" tem suas vantagens. Cultiva-se ainda mais e melhor as pérolas e dedica-se muito pouco aos relacionamentos de aparência. Aqueles que pegam bem, mas não significam nada para ninguém.
Até hoje não descobri o que torna uma pessoa , unanimidade (ou o mais próximo que se possa chegar disso). Pode ser uma inata habilidade de não desagradar a ninguém. É lindo de ver, mas não é para todos. Viagem, cada um aqui tem a sua. E aquele estereotipozinho carregado de equívocos, chamado felicidade, não é unânime, nem histérico, nem efêmero. Não busca como morada pessoas perfeitas. Não elege os "melhores". É tão somente um estado de estar na vida. Uma percepção à disposição de quem enxergar um milésimo do que precisa ser feito para tirar todo o inútil que habita concreto na nossa mente, e acender a visão para esta busca de si próprio que ofega escondida dentro do peito.
Para ser eu, abri mão de ser a unanimidade que nunca pude. Me alegro por descobrir quem eu sou e saber que esta descoberta traz milhares de custos. Os pagarei todos.
Da mesma forma que o inútil faz ninhos sobre as nossas cabeças, a Coragem também pode fazer. É por ela que eu chamo, hoje e sempre.

terça-feira, setembro 18, 2007

Todos os Elementos





Tanto ainda por ver!
Infindáveis paisagens do mundo.
Infindáveis cenários para mim.
Infindáveis eus aprendendo. Perdendo. Crescendo. Ganhando.
Infinitamente...
Olhos bem abertos. E erro, muito.
E quero, tudo.
Vejo as pessoas, vejo as estações, sinto as situações.
Tão longe de ser unanimidade em qualquer lugar.
Às vezes amada, às vezes não.
Muitas vezes sem fazer sentido, homeopaticamente enxergando
que vale mais, muito mais
A forma de caminhar.


segunda-feira, setembro 03, 2007

Crônica Para Mim

Eu nasci contrariando as expectativas de alguns. Teria sido mais fácil, para estes, eu ter esperado para encarnar em outras condições.
Acontece que, quando nasce alguém, esta vida chega fresca, nova, toda por ser percorrida e descoberta. E aí, quem está por perto acaba renascendo junto. Quem fica longe não tem como saber do que é que esta vida é feita. Quais são as suas cores, sabores e dores. Quais são seus sonhos e desejos. O que lhe vai na alma e no coração. Quem fica longe não tem como perceber tudo o que a vida nova não diz e jamais irá dizer. Este é um privilégio dos que renasceram e cresceram junto.
Ocorre que uma pessoa é constituída de infinitas nuances que nem ela própria conhece e tudo sempre pode mudar. Os sábios - ainda que ignorantes de sua sabedoria - deixam livre o espaço para o intangível. Sabem que mais dia, menos dia, um anjo pode soprar por sobre seus ombros e trazer o imprevisível. Nesta hora tudo se move e cada um que cuide de limpar a sua bagunça. Porque é claro que a mudança bagunça tudo. O imprevisível remove portas e janelas a tapa, e deixa muito rastro para limpar.
Entre uma ventania e outra, eis que me surge na vida, um pai que eu nunca conheci. Ou melhor, um pai que nunca me conheceu.
Da forma que os eventos do meu nascimento se deram, eu jamais procurei esta pessoa para que assumisse o seu papel na minha vida, ainda que tivesse plenas condições para isso, da mesma forma que ele, para me encontrar. Não acredito em amor que se pede. Que dizer então, de ter que pedir que o co-autor da sua vida te ame. Para mim, não caberia jamais.
Existem, é claro, os detalhes técnicos da concepção, como por exemplo, quem vai pagar as contas. Neste quesito, felizmente a necessidade nunca chegou a obrigar que ele precisasse ser procurado com exigências de que pagasse o que lhe cabia. Para mim, esta possível renda a mais nunca entrou na conta do porque seria importante ter pai. Outro sobrenome na minha documentação também nunca fez a menor falta. Eu adoro o meu. Convênios diversos para maior conforto e segurança? Se precisei, foi tão ínfimo que sequer me lembro.
O que esta vida fresca poderia ter feito bom uso quando chegou, seria uma dose extra de família. Gente para nos amar e proteger, não é demais jamais. Gente para nos cuidar e nos dar a segurança, não do dinheiro e das documentações, mas sim de que se pode sair para o mundo com todo desprendimento e coragem porque se o mundo não nos merecer, o amor do ninho de onde saímos estará sempre ali para curar as feridas. Isto, felizmente, eu tive intensamente. Mas toda vida é gerada de uma mulher e de um homem.
Estabeleceu-se que seria desta forma por alguma razão e cada qual, homem e mulher, tem suas próprias particularidades insubstituíveis a exercer quando gera um outro ser. Um não poderá cumprir o papel do outro, simplesmente porque são diferentes e têm seu próprio papel a cumprir. E a vida que chega precisa de ambos para voar com confiança - para dentro de si mesma e para os confins da terra.
Com todos os pensamentos que me ocorreram desde que este pai surgiu, permanece sem resposta uma pergunta bastante importante: há prazo de validade para pai? É possível entrar, como pai, na vida de uma pessoa quase três décadas depois do seu nascimento? Qual outro tipo de relacionamento seria possível como alternativa?
Às vezes, estas perguntas me parecem essenciais. Noutras, me parecem o mais insignificante de tudo.
Neste ponto foi que me chegou a noção de que tudo sempre pode mudar. O coração humano tem limites incrivelmente elásticos para receber a mudança, o intangível.
É bem menos importante saber se a validade já expirou, do que saber quais foram as reais motivações e intenções para que este pai que jamais foi obrigado a nada, decidisse, tanto tempo depois, se apresentar.
Uma pessoa que teve pai, ainda que não tenha sido pai de um de seus filhos, talvez jamais chegue a enxergar a extensão da importância deste amor. E a extensão dos danos da falta dele.
É um terreno tão frágil, que se deveria ter licença judicial para pisar. A falta de cuidado ao fazê-lo, deveria ser crime inafiançável previsto na lei.
Nesta hora, palavras como "obrigação" e "responsabilidade", ficam pequenas e vazias diante do amor que se abriu mão de construir.


quarta-feira, agosto 29, 2007

Confesso que vivi

Quanto mais a vida acontece, mais vou percebendo algumas verdades, universais no meu mundo e sólidas para a minha alma.
Um sem número de eventos da vida seria perdido ou desperdiçado em grande parte se acontecesse em outra época, de outra forma, em meio a outras companhias, em outro momento pessoal. Tudo sucede na nossa história onde, como, quando e com quem deveria. Duvidar disso é jogar fora tudo de importante que estiver brilhando no horizonte enquanto as lamúrias pelo que ainda não veio jorram por nossa boca.
Nada do que a gente sonha ou espera, que vem demorando pra existir em nossa vida vai chegar a acontecer se não cairmos na nossa real e nos direcionarmos e organizarmos para isso. Quem tem medo de comprar as brigas, não vai desfrutar os acertos.
A gente tem uma facilidade incrível para se acostumar. É necessária a vigília constante para que, por excesso de costume, não acabemos sendo quem não somos e vivendo a vida que não escolhemos. E o limite entre buscar o que queremos ou ficar no que circunstancialmente experimentamos é finíssimo. Um espírito atento é nosso melhor aliado e uma auto-análise consciente faz milagres.
Reservar uma porcentagem considerável do dia para se fazer apenas coisas nas quais se tenha prazer - um prazer espontâneo e sem explicação - TODO santo dia, não garante plenitude a ninguém. Mas que a deixa espetacularmente mais perto, isto não se pode negar. Obrigação em excesso aprisiona o entusiasmo por si mesmo e por todas as possibilidades ainda a encontrar. Nossos sonhos precisam de tempo hábil para respirar e o ar não passa nas frestas reduzidas entre obrigações acumuladas.
Alguém, em algum lugar, já deve ter estudado a quantidade de riso diária que se precisa para não ficar com marcas de expressão nos pontos onde a carranca se forma quando não tomamos providências. Tem motivo à beça para não rir e o riso sem sentido e sem razão é, exatamente por isso, o que nos causa maior deleite.
Sempre, em qualquer momento que se esteja atravessando, em qualquer emprego, em qualquer grupo, vão haver pessoas - não raras, diga-se de passagem - que se sentirão perfeitamente qualificadas para, depois de no máximo duas olhadas rápidas, serem capazes de saber quem somos e nos classificar conforme bem entenderem. Talvez para elas, esta elaborada análise de cinco segundos sirva como parâmetro do que temos a oferecer ou de nossa personalidade. Isto não significa, absolutamente, que por um minuto sequer este rótulo venha nos dar um retrato de nós mesmos. Ninguém, por mais qualificado que se acredite, serve para nos dizer quem somos. Dar a alguém este poder é colocar-se à mercê de ser quem as pessoas prefeririam que a gente fosse. Só o auto-conhecimento praticado com dedicação e paciência pode nos dar esta resposta, homeopática e constantemente evolutiva.
Tudo o que se possa conquistar de mais precioso vai valer pouquíssimo se, neste caminho, não nos tivermos lembrado de cultivar autênticos parceiros de viagem, verdadeiros amores para dividir as vitórias conosco. Uma vitória solitária amarga os lábios e perde importância. Somos únicos e individuais, mas é no relacionamento que nos sentirmos alcançar os céus e todo esforço no sentido de nos aprimorarmos para isto será muito bem recompensado pela satisfação íntima e intransferível que nos acompanhará até pelos terremotos ocasionais.




segunda-feira, agosto 20, 2007

Safari


Tem uma selvagem escondida dentro de mim.

Ou talvez tenha uma pitada de civilizada na selvagem evidente que eu sou.

Fico em cima do muro, entre as duas, pensando que qualquer dia destes a selvagem faz uma loucura. Mas depois aquieto e a civilizada volta a levar sua vida dentro das paredes nas quais foi institucionalizada para viver.

A selvagem, de tempos em tempos exige espaço. Mas suas exigências acabam sempre durando apenas o suficiente para serem confundidas com a tpm ou com alguma outra fase de hormônios mais à flor da pele. Então, a civilizada quase se apodera de tudo e faz acreditar que hormônios enlouquecidos são a excessão.

Bicho que é, a selvagem espreita. Adestrada que se tornou, a civilizada argumenta.

Tem algo que admiram de longe, uma na outra. Mas sabem-se sol e lua, incompatíveis dividindo o céu e, entretanto, usando sempre o espaço que é de ambas.

Não alcançam o suficiente para enxergar o que faria uma na vida da outra. Sofrem fora do seu habitat, lhes falta o ar, lhes falta o chão. Não são aliadas. São oponentes involuntárias brigando por território. Choram quando expostas ao cruel talvez, e este é provavelmente o único ponto que jamais terão em comum.

A civilizada, na selva, sente medo e solidão. A selvagem, no concreto, sente asfixia e insatisfação.

Infinitos horizontes excludentes que se tocam brevemente no olhar e no acelerar da pulsação. E isto é tudo o que há entre elas, não concordarão jamais.

domingo, agosto 12, 2007

Amém

Se você precisar de descanso, não descanse muito mais do que o necessário porque o ferro parado enferruja e a água estagnada apodrece... E, além disso, talvez mais tarde, lhe falte tempo para terminar a tarefa da existência, e é trágico demais morrer inacabado.
Se você escorregar na estrada da existência e até mesmo cair de uma vez, não fique deitado no solo, clamando pelo destino, porque lhe falta ainda muito chão, muito caminho para andar.
Se você encontrar a semente ou muda do raro arbusto da felicidade, não vá plantá-la em seu quintal todo cercado, mas sim ao lado de um caminho frequentado para que muitos possam descansar à sua sombra e comer seus frutos, sem pagar.

* Encontrei estas linhas escritas em 17.3.2006, cuja razão de ter escrito , não me lembro e nem mesmo me lembro de haver escrito. Mas foi uma boa surpresa :)

domingo, julho 22, 2007

"Nenhum coração jamais sofreu indo em busca de seus sonhos"


Tão pouco acreditamos na inerente capacidade de sonhar. No dom de fazer acontecer o desejo, de escalar as mais altas montanhas, de transpor as mais descabidas dificuldades, de ser o que bem entendermos. De subir, subir, subir.
Poderemos.
Iremos.
Despontaremos.
Exército da bem-aventurada fé de que tudo fará. Fiéis do credo que não tem cor, idade, localidade, capital, pós-graduação, pedigree, manequim 38, clube da moda, limites.
Espécie rara que olha para o céu e não para o chão.
Gente que chora, ri, namora, ora, olha, diz, faz, é.
Invencíveis soldados combatendo por conquistar léguas a frente, vestidos nas glórias passadas e esperanças futuras. Lutando hoje, e sempre.
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segunda-feira, julho 16, 2007

Reach


Tem dia que é pra ser seu.
Pode ser segunda feira, pode o dia estar frio e chuvoso, pode o seu relógio ter despertado uma hora mais cedo porque você precisava chegar bem antes no trabalho, pode a pessoa que marcou contigo ter furado e te deixado esperando, pode o carro ter morrido cinco vezes no semáforo movimentado te deixando debaixo de buzinadas raivosas, pode aquele pensamento cruel ter te cruzado a mente repeditamente: "e agora???".

Pode você ter se sentido preterido e injustiçado vez após vez pelas "leis" e pessoas vigentes, pode a falta de valorização e reconhecimento ter te esgotado até os ossos, pode a dúvida perpétua do "até quando?" ter te assombrado sem trégua. Podem todos aqueles seus defeitos de estimação que você já conhece tão bem não terem, até hoje, dado sinal de levantar acampamento te fazendo sentir inadequado e insuficiente. Pode a decepção, este fenômeno que criamos tão bem, ter assumido cadeira cativa a despeito das vezes que foi enxotada.

Pode até a força, o humor, a serenidade, a ousadia, a elegância, a afetuosidade, o impulso, a beleza, a evolução terem falhado e te faltado.

Mas o dia está lá. Com o seu nome estampado em letras maiúsculas fluorescentes. Embebido de uma vitória pessoal que ninguém mais enxerga, de um colo certeiríssimo para as suas necessidades mais primárias. Encantado com um aplauso inaudível aos ouvidos humanos e com um sinal de "SIGA EM FRENTE" pintado na nuvem mais alta.

Dias de luz, festas do sol mesmo sem sol. Disfarçados de cotidiano sem graça, vão parindo milagres silenciosos na sua vida. Água benta nas suas preces, oração de coração que deseja se fazer melhor.

"Aqueles dias em que você se ergue sobre as estrelas".

quarta-feira, julho 11, 2007

O Caos e a Lama


Enquanto isso, no planetinha Terra...

Universitários burgueses paupérrimos de espírito e caráter espancam e assaltam, em bando, mulheres (com cara de prostitutas) desacompanhadas e indefesas nas ruas de metrópoles-terras-de-ninguém. Os lamentáveis pais os defendem e os consideram injustiçados, afinal, a maria-niguém atacada nem morta está. Até viveu para contar a história.

O caos na essência do ser dito humano, reina. A lama e o sangue ficam nas mãos de tantos assassinos - de corpos ou de almas - que permanecerão impunes pelas facilidades nojentas que lhes confere sua suposta "classe".

E há também um outro tipo de assassinato que impera nesta nossa raça transviada. O assassinato dos valores. Morre a humildade, morre o respeito, morre a honra, morre a integridade. Mata-se a luta que deveria ser a busca primeira, mantida a qualquer custo: a preservação da espécie. E para preservar é tão fácil... Basta não se colocar acima do seu semelhante. Basta abrir a mente que nos alimenta de descobertas e crescimento infinitos. Basta harmonizar-se com este Deus tão alardeado e tão pouco conhecido. Basta não falsificar lideranças - políticas, ideológicas, espirituais - pelo mero senso de responsabilidade que sabe que nas lideranças haverão seguidores e que, a falta de valores e de visão pode ser mais danosa que explosões atômicas.

Segue o caos no planetinha onde supostos líderes afirmam barbaridades com a displicência de quem escolhe entre caju ou laranja para o suco matinal. Pretensos representantes da divindade suprema julgam-se , e ao seu credo, supremos. Não sabem onde termina o seu cargo de orientadores de um povo e onde começa a força maior que um dia foram escolhidos para representar. Impõem-se. Prostituem a Criação e o Criador. Proclamam impropérios dignos de novas guerras e esperam sair ilesos.

Pena, planetinha. Tão bonito e tão mal representado.
Algum dia aprenderemos.

terça-feira, julho 03, 2007

A verdade e a coragem

- Eu tenho a perpétua impressão desde que me lembro que, em algum momento, algo vai se descortinar diante dos meus olhos. Talvez nem seja nada disso, talvez eu vá caminhando um passinho atrás do outro mesmo sem maiores descortinamentos rs, mas tenho esta sensação de
que em algum momento eu vou descobrir algo maior. Ou talvez não seja sensação, só um desejo.


- Bem... às vezes o algo maior a ser descoberto, só é possível após pequenas e diversas outras descobertas

- Não sei mesmo, mas eu sonho em fazer algo além que não sei bem o que é... isto dificulta um pouco rs

- Isso me lembra de um trecho de uma carta de Florbela Espanca a Guido Battelli:
"Às vezes, parece que tenho qualquer missão a cumprir, qualquer coisa a fazer; mas não sei o que é, não compreendo, e esta inquietação mina-me, roi-me; esta interrogação, esta contínua busca, cada vez mais ansiosa, dentro de mim mesma, desvaira-me."

- Esta sou eu

- Somos nós...
Eu sei o quanto me cobro e o quanto às vezes me cobro além do que posso, então tenho tentado aprender a lidar com isso
(...)

- Parece que a gente nunca descansa de tentar não se medir pelas réguas alheias

- Talvez... mas a minha própria é muito mais exigente que a dos outros... só que, em boa parte das vezes, em coisas que pros outros não têm importância e pra mim têm, e vice-versa

- Aí a briga é dupla, porque a gente quer se encaixar em todas as réguas... Quase sempre, ao menos

- Tenho entendido que o que interessa é a minha...e mesmo assim, a minha pode estar equivocada em muitas coisas

- Sim...você entendeu tudinho
É bem por aí :)

- O que tenho feito é tentar lidar com essa ansiedade então... e ter uma noção maior que as coisas vão sim acontecer... mas que preciso estar preparado pra elas... e se preparar é agir em várias outras coisas também

- É um mosaico. Pedacinhos que aparentemente podem não ter nada a ver entre si, que vão construir o todo

- Talvez, caso seja mesmo assim, eu consiga ficar mais tranquilo... rs
Porque, realmente, esta noção que há algo maior, o tempo todo, que não sei o que é... está comigo desde sempre e a ansiedade por saber sempre foi grande.
E a auto-cobrança por ainda não ter descoberto também
(...)

- A gente se sabota muito

- "Às vezes sinto em mim uma elevação de alma, o vôo translúcido duma emoção em que pressinto um pouco do segredo da suprema e eterna beleza; esqueço a minha miserável condição humana, e sinto-me nobre e grande como um morto. É um instante... " (outro trecho da carta)

- Meu Deus...que coisa linda
Obrigada.

- Obrigada pelo quê, querida?

- Por me ajudar a me conectar.