segunda-feira, novembro 19, 2007

Puro Sangue


Ser humano é antes de tudo, ser animal. Racional, sim. Capacitado de discernimento, sim, embora por vezes nada lógico. Mas, um animal.
E disso não se deve esquecer jamais.
Feito de instinto, percepção e vontades inexplicáveis. Capaz de contradizer e contrariar suas próprias crenças a todo momento. Capaz de perder interesse no que já lhe foi essencial. Capaz de atrair-se pelo que já lhe repeliu. Capaz e imprevisível, sobretudo para si mesmo.
Nuance de cores puras. Tons vivos e pastéis da própria aquarela.
Usa a razão para se provar que acredita em valores pré-determinados e rompe com tudo quando surgem novas paisagens.
Bicho do mato. Fera na gaiola. Pássaro solto. Homem.
A evolução natural de uma espécie que escolhe seus parceiros pelo cheiro. O retrocesso elementar de uma raça que não mata para comer.
Este ser, humano e imperfeito que educa a cria à sua própria imagem e semelhança , justificando que é este o seu Deus.
Vive em terras de ninguém e faz as suas leis se chamando de civilizado. Se cerca de espelhos para não enxergar o selvagem que lhe habita.
Se cobre de grifes, perfumes, personas, circunstâncias, mas nunca consegue se explicar. É o sol, quando beija de leve a face da lua. É a lua, quando se entrega à noite em silêncio.
Assiste impassível ao choque de seu campo magnético com o campo magnético de seus semelhantes. Nunca igual, sempre buscando alguma identificação.
É o vento que sopra de repente e desarruma laços feitos para durar. Mostra garras e dentes quando ameaçado e defende o diálogo, na teoria.
É talvez o único animal que não se reconhece animal.
Nega-se. Omite sua natureza. Venda-se.
Quando só, ruge lamentos de uma alma que pouco enxerga. Quando em pares, dança sinuoso criando ritos de conquista. Quando em bandos, imita inconsciente outros animais.
Erra sempre, mas jamais enumera seus erros.
Considera apenas as vitórias. Profano, ateu, inveterado pecador. Goza de todos os seus prazeres e lambe feridas que ele mesmo causou. Fere. Cura. Quer.
Disfarçado, inexplorado, adormecido, mas sim, um selvagem.
E disso não se deve esquecer jamais.
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2 comentários:

Anônimo disse...

"Para ser humano não precisa ser um herói
Basta ser humano como qualquer um de nós
Pode até trair, pode até roubar
Pode até sofrer, pode até amar
(...)
Para ser humano
Veja o mundo afinal
Sempre à beira do abismo
O apocalipse NOW!
De um lado o racismo
Do outro o populismo
Um mundo sexista
Um mundo chauvinista
(...)
Para ser humano, basta ser humano"
(Edgard Scandurra)

Anônimo disse...

Bia,


Selvagem, sim.


Mas deliciosamente selvagem!

Adorei esse teu texto!

Abraços, flores, estrelas...