Vez em sempre a gente se distrai. Perde contato com situações que sobrevivem à nossa displicência e espreitam num ou noutro canto. Não tem fuga, não tem deixar para depois o que pede atenção naquele agora.
Ninguém vai te perguntar se você queria pensar nisso ou naquilo, se era o melhor momento.
Serão indefinidamente trazidas ao seu conhecimento as pendências que você não cuidou de resolver consigo mesmo.
Aí então, você vai tentar. Uma, duas, dez vezes. Vai tentar da melhor forma que puder (ou às vezes, nem isso). Vai relutar em agir. Vai duvidar do que fazer. Vai perceber situações purgando sobre a superfície em chamas da sua carne.
E vai continuar sendo você mesmo e fazendo tudo (e só) o que pode fazer. Ocasionalmente, vai aprender uma ou outra boa lição, daquelas que ficam mesmo, pra sempre.
Se perceberá, direta ou indiretamente, dividindo experiências com gente que tenta avançar da mesma forma que você. Gente que quer mais da pessoa que sabe que pode ser. Gente que luta também batalhas diárias contra a incompreensão, o despreparo, as distrações, o egoísmo, a indiferença, o desconhecimento, as distâncias a percorrer no próprio íntimo.
Pensará no que já foi, antecipará o que será, celebrará o que é.
Escalará arranha-céus e repousará na rede à beira da lagoa. Cansará. Descansará até chegar o momento de vestir novamente a armadura e sair no galope de dúvidas confiantes reservado para o combate da vez.
Muito cedo vai notar que não se responde sem dor aos chamados sussurrados ou gritados aos seus ouvidos desatentos. Com o tempo vai notar também que, saber como responder aos chamados, é uma especialidade que sempre se busca e dificilmente se alcança.
E do seu jeito, mais uma vez se apresentará ao combate da forma melhor que souber. Não sem antes voltar aos questionamentos de sempre. As eternas procuras de um porquê e as reincidentes conclusões de que os porquês não lhe cabem.
O que lhe cabe, é mesmo partir. Sem mapa, sem escudeiro, sem privilégios.
Vestido apenas em entrega, a sua companhia é a coragem.