segunda-feira, abril 14, 2008

Palavras Cantadas



A música é uma presença.

Ontem me lembrei de uma fita cassete guardada que tem quase a minha idade, onde estão registrados alguns dos meus primeiros ensaios de cantora de chuveiro.

Eu, com 1 ano e meio, "cantando" com uma tia (ao violão) e uma prima em segundo grau.

Até sabia as letras! Só era difícil de compreender o que é que eu estava dizendo. Inventava umas palavras, resmungava outras, mas eu sabia tudinho, ou quase.

Algumas eram mais difíceis, eu não conseguia cantar junto. Mas acompanhava o desenrolar da melodia e fazia côro na hora dos "os" e "as".

As músicas desta gravação ficaram presentes. Costuraram momentos e memórias. Fizeram e fazem sentir bem, muito bem. Ainda que, na época, "um dia, gatinha manhosa eu prendo você no meu coração" me fizesse chorar, porque eu tinha absoluta certeza que este tal de coração era um lugar onde alguém ia mesmo me trancar.

Nos quase trinta anos da minha vida, é muito especial lembrar dos Vinte e Poucos Anos cantados naquela época. A letra ficou imortal. Quero saber bem mais que os meus vinte e poucos anos.

"Você já sabe , me conhece muito bem
Eu sou capaz de ir, e vou, muito mais além
do que você imagina
Eu não desisto assim tão fácil, meu amor
das coisas que eu quero fazer e ainda não fiz
Tudo na vida tem seu preço, seu valor
E eu só quero nessa vida é ser feliz..."

Quem assistiu Happy Feet, o desenho daqueles pinguins cantores pra lá de simpáticos, sabe que para eles é tradição inviolável que cada novo pinguinzinho encontre a canção do seu coração. Qual não foi o desastre, quando o pinguim-título não consegue cantar nem para salvar a vida. Seu negócio era dançar. Tinha um sapateado de raro talento. No caso dele, a canção era cantada com os pés, não com as cordas vocais. E assim ele foi, movendo céus, terras e obstáculos, e tocando quem encontrava pelo caminho em nome de fazer o que acreditava.

Gosto da idéia de que cada um possa descobrir sua canção do coração, não seria nada mal se a gente como a gente copiasse esta "tradição".

Assim me parece quando me lembro da música dos vinte e poucos.

Praticamente uma canção cantada com o coração. Veio, de longe, me acompanhando e me marcando com a sua mensagem.

...Mas que bobagem, já é tempo de crescer.

Doce a presença da música em minha vida. Tantas poesias, tantos ritmos que me fizeram encontrar mais e mais com este quê de essência da minha alma.

Cantando, vim me conhecendo. Recebendo sutis mensagens que me acalentaram, inspiraram, emocionaram, moveram, desvendaram.

Canto ainda hoje, e sempre, para saber mais quem sou. Como a passagem para um caminho que só se abriria diante de uma melodia.

Música que destrava portas, janelas, pessoas. E me faz canção.
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4 comentários:

Anônimo disse...

Mas que bobagem, não precisa crescer não. Pelo menos, não dessa maneira. Continue cantando. Ah, e prender no coração é muito bom. Vale a pena. Beijo, amorinho.

Lu Dias disse...

Ai que post mais lindo!!!
Tipo, nem sei o que dizer, parabéns!!
A música é uma presença e este post é um presente!
Beijos e as músicas mais lindas pra vc!!

Anônimo disse...

Uma das coisas mais gostosas que pude ouvir foi essa fita. Que me emocionou tanto. Como sua canção me fascina. Como sua vida me fascina. E amo. Você, sua vida, sua canção. As que cantou, as que cantará. A que compõe, dia-a-dia, nota por nota. E vive. E canta. Encanta.

Eu não sei qual seria a minha canção. Conto com sua ajuda para descobrir. Me descobrir.

Te amo. Beijo!

Anônimo disse...

Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda... Que, palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando.

Coração na boca, peito aberto, vou sangrando... São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando.

Quando eu abrir minha garganta, essa força tanta... Tudo que você ouvir esteja certa que estarei vivendo.

Veja o brilho dos meus olhos e o tremor nas minhas mãos, e o meu corpo tão suado transbordando toda a raça e emoção.

E se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso... Não se espante, cante, que o teu canto é minha força pra cantar.

Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda: é apenas o meu jeito de viver o que é amar!

("Sangrando", Gonzaguinha)