segunda-feira, janeiro 29, 2007

Cingrando









Nuvem virgem
Esfinge
no azul profundo
Meninas de sorver o mundo.

domingo, janeiro 28, 2007

Mea Veritas


Mais sua do que minha a verdade de me mudar.

Me encontro em algum ponto real do imaginário das almas que me cercam. De perto ou de longe, me cercam. Do certo ou do errante, me cercam. Convergimos em nossos centros, em nossos extremos, em plasma e célula, sedentos um da verdade do outro, que habita templos redentora, que queima infernos desertora, exorcista de demônios ininteligíveis e onipresentes.

Sou, na exata ressonância dos sons emitidos por outras gargantas. A vida, que me trouxe até aqui raramente é minha, somente.
Semente.

Me trouxeram tantas, me fizeram quantas foram as oferendas invisíveis, senão aos olhos do outro lado.
Um grama de mim e de você, pesos e medidas escondidas em cada palavra casual, trocada na desatenção de captar o impensável no dizer. Na solitude fundamental entre uma e outra vida, aspiram-se idéias veladas, inspiradas na ponte etérea erguida nos labirintos cruzados por ruas sem nome. Batizadas. Desde sempre cristianas sob algum pagão sentido de comunhão.
Gotas de todo o Todo. Dois terços de tudo o que há na esfera pouca que conhecemos. Unimos terras, pensando-nos pequenos. Braços preenchendo espaços em punhados de utopias colhidos nos percalços.
Passos a mais de um, gerando vôos e saltos.


- Eu era,
Não sei se melhor, pior, maior, menor
mas era
Te conheci
E hoje sou
involuntariamente, outro. -
(Me perdoe o autor deste verso cujo nome não cheguei a saber, cuja literalidade não sei reproduzir. Me lembro apenas vagamente, o suficiente para querê-lo a caber aqui.)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Mulher Selvagem

Tem alguns temas que ficam especialmente interessantes conforme a ótica pela qual são vistos. Este texto conheço há algum tempo, amo desde o primeiro momento e seria outro texto caso houvesse sido escrito por uma mulher. Não importa quão brilhante escritora fosse. O fascínio, está em - além do conteúdo libertário, místico, físico, transcendente, inteligente - haver sido escrito por um homem. E que homem. Para ler, reler e rever-se - caso seja mulher - ou revê-la - caso seja homem.
Mulher Selvagem - Ricardo Kelmer

A mulher selvagem em quase tudo é uma mulher comum: pega metrô lotado,
aproveita as promoções, bota o lixo para fora e tem dia que desiste de sair
porque se acha um trapo. Porém em tudo que faz exala um frescor de
liberdade. E também dá arrepios: você tem a impressão de que viu uma loba na
espreita. Você se assusta, olha de novo... e quem está ali é a mulher doce e
simpática, ajeitando dengosa o cabelo, quase uma menininha. Mas por um
segundo você viu a loba, viu sim. É ela, a mulher selvagem.
A sociedade tenta mas não pode domesticá-la, ela se esquiva das regras.
Quando você pensa que capturou, escapole feito água entre os dedos. Quando
pensa que finalmente a conhece, ela surpreende outra vez. Tem a alma livre e
só se submete quando quer. Por isso escolhe seus parceiros entre os que
cultuam a liberdade. E como os reconhece? Como toda loba, pelo cheiro, por
isso é bom não abusar de perfumes. Seu movimento tem graça, o olhar destila
uma sensualidade natural - mas, cuidado, não vá passando a mão. Ela é um
bicho, não esqueça. Gosta de afago, mas também arranha.
Repare que há sempre uma mecha teimosa de cabelo: é o espírito selvagem que
sopra em sua alma a refrescante sensação de estar unida a Terra. É daí que
vem sua beleza e força. E sua sabedoria instintiva. Sim, ela é sábia pois
está em harmonia com os ritmos da Natureza. Por isso conhece a si mesma,
sabe dos seus ciclos de crescimento e não sabota a própria felicidade. Como
todo bicho ela respeita seu corpo mas nem sempre resiste às guloseimas.
Riponga do mato, Gabriela brejeira? Não necessariamente, a maioria vive na
cidade. E há dias paquera aquele pretinho básico da vitrine. E adora dançar
em noite de lua. Ah, então é uma bruxa... Talvez, ela não liga para rótulos.
Sabe que a imensidão do ser não cabe nas definições.
Mulheres gostam de fazer mistério. Ela não, ela é o mistério. Por uma razão
simples: a mulher selvagem sabe que a vida é uma coisa assombrosa e perfeita
e vive o mais sagrado dos rituais. Ela sente as estações e se movimenta de
acordo com os ventos, rindo da chuva e chorando com os rios que morrem.
Coleciona pedrinhas, fala com plantas e de uma hora para outra quer ficar
só, não insista.
Não, ela não é uma esotérica deslumbrada mas vive se deslumbrando: com as
heroínas dos filmes, aquela livraria nova, o CD do fulano... Ela se
apaixona, sonha acordada e tem insônia por amor. As injustiças do mundo a
angustiam mas ela respira fundo e renova sua fé na humanidade. Luta todos os
dias por seus sonhos, adormece em meio a perguntas sem respostas e desperta
com o sussurro das manhãs em seu ouvido, mais um dia perfeito para celebrar
o imenso mistério de estar vivo.
Ela equilibra em si cultura e natureza, movendo-se bela e poética entre os
dois extremos da humana condição. Ela é rara, sim, mas não é uma aberração,
um desvio evolutivo. Pelo contrário: ela é a mais arquetípica e genuína
expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino. Ela está
aí nas ruas, todos os dias. A mulher selvagem ainda sobrevive em todas as
mulheres mas a maioria tem medo e a mantém enjaulada. Ela é o que todas as
mulheres são, sempre foram, mas a grande maioria esqueceu.
Felizmente algumas lembraram. Foram incompreendidas, sim, mas lamberam suas
feridas e encontraram o caminho de volta à sua própria natureza. Esta
crônica é uma homenagem a ela, a mulher selvagem, o tipo que fascina os
homens que não têm medo do feminino. Eles ficam um pouco nervosos, é
verdade, quando de repente se vêem frente a frente com um espécime desses.
Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore. Mas é normal.
Depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros e aí...
Bem, aí a Natureza sabe o que faz.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Do you know what it feels like for a girl, in this world?

Bom te ouvir sonhar.
Bom atravessar os mares, te sentir chegar.
Bom estar no ar que perpassa latitudes,
bom desatinar
Bom desimportar-se do decifrar
Bom chover solta
gota imprecisa, marota
Nuvem no olhar
Bom sangrar sorrindo, ver-te refletindo
luz crepuscular
Bom te ninar, te mimar
Areia granulada em mãos de fada
Desdém de promessa quebrada
Pacto particular.
Bom, sim, te ouvir sonhar.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Inspirar

Já ia quase esquecendo.
Antes de chegar à esquina ,
vento soprou suave e me lembrou
"Tudo o que move é sagrado"
A coragem, a ingenuidade, o desprendimento
inspiração, respiração, transpiração
O que o céu esconde e espalha sobre os homens
Tudo, sagrado.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Trocando em Miúdos

Parando para pensar,
o nome da in-compreensão
teria tudo para ser out
Nada mais fora
do que
se recusar a falar,
se recusar a ouvir,
se recusar a ceder.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

O oposto da proposta

Então eu me propus a esquecer. Me propus a esquecer de todos os quase começos, de todas as esperanças amargamente frustradas, de toda a acidez, toda a descrença induzida, todas as vezes em que fechei os olhos porque ver o que estava adiante feriria demais.
Bem, digo "me propus" mas provavelmente eu nem tenha me proposto a nada. Foram apenas os ciclos da "minha vida" (digo descuidadamente) que urgiram e agiram, pelos quais eu gostaria mesmo de receber todo o crédito.
Da janela, via que tudo tende a ser fulgás. Mesmo os momentos onde o tempo parece parar, quando findam, quase se perdem no nada, ainda que sempre nos queiram apresentar como eternos. São eternos em algum lugar dos nossos registros mais remotos. São presentes na ausência, na inexistência, na desistência. Mas não eternos daquele jeito de pra sempre que me ensinei a acreditar. A pessoa que vestiu certos dias nos mantos do imortal, ficou, fazendo-os companhia. É eterna também, na sua própria perecividade. Existe até os confins de todo o sempre pintada n'alguma parede de sua dimensão.
Me propus então, e agora sim, sem pressa me propus, a sentar-me preguiçosa nos pequenos degraus que escalava tão custosamente. Talvez não visse, talvez não me desse conta de que bastava a troca de passos no meu próprio ritmo. Talvez corresse de alguém ou para alguém sem rosto e sem nome. Talvez corresse de mim e desta desencontrada noção de mim que nutria em cantos mais escuros ou menos iluminados por onde deixava pensamentos e sensações inclassificáveis. Me dei conta de forma quase infantil de que os degraus eram a minha única passagem. Como poderia fazer do caminho meu inimigo? Eu que sempre desgostei de nutrir inimizades, escolhi um oponente à altura. Vivia em mim e de mim conhecia todos os segredos. Debatemo-nos despropositadamente. Desafiamo-nos egocentricamente. Perdemos.
Renascida, quem sabe, refeita, provavelmente, reclusa, consequentemente. Botões rubros mirando o sol desperto de descoberta, os olhos abertos marejados. Umedecidos pela emoção de poder pisar leve os degraus que reneguei.
Me propus, finalmente a deixar as propostas para aqueles que ainda negociam com os degraus. Firmei os passos em certa altitude rarefeita, rara. O mais alto de mim. Nunca sem lutas, nunca sem multas, sem penas, sem trovões. Chegando apenas, seguindo apenas, sentido indeterminado rumo aos picos que procurei.

domingo, janeiro 14, 2007

Pequenas Epifanias

Graças à minha queridíssima Nathali (a sensibilidade ímpar linkada aqui ao lado no Certas Coisas Entre Nós ) eu tive a felicidade de tomar conhecimento mais de perto deste inacreditável Caio Fernando de Abreu. Me apaixonei imediatamente. Perdidamente. Aí fui ver mais de perto e descobri o Pequenas Epifanias , uma coletânea de alguns de seus contos que traz de presente este aqui transcrito. Não tinha mesmo jeito melhor de falar deste gênio das palavras, do que trazendo um de seus momentos mais inspirados, apaixonados e apaixonantes. Tenha uma boa viagem.

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".

Caio Fernando Abreu

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos. Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

(Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986 e no livro com o delicioso nome de 'Pequenas Epifanias')

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Peneiras Sob o Sol

"Certas mágicas são reais", ouvi num filme certa vez.
São tão reais quanto tudo o que há de impalpável, incerto, incomum
e minuciosamente preciso neste espaço que ocupamos temporariamente.
Nós, entretanto, nos perdemos das mágicas e do que é real com uma facilidade quase assustadora. Acreditamos no que só a nossa mente cria, vivemos viagens que não são as nossas, dispensamos elementos essenciais para a nossa própria continuidade, negamos o que é vida, abraçamos os castelos de areia movediça que inventamos, existimos em nosso pequeno universo paralelo e, sem olhos para ver, nada enxergamos do convidativo ballet que desfila sincronizado à frente da nossa alma.
Queremos desta vida, o que ela possa nos dar de compatível com a forma na qual damos traçado aos nossos anseios. Queremos idealizar e ver-se concretizar. Queremos o mundo rodando na nossa velocidade e os dias amanhecendo ao nosso sabor.
Não queremos saber de como a vida é. Apenas passamos todo o tempo possível na luta adormecida de ajustá-la às nossas pequenas existências para que seja tão somente o que nós esperamos.
Que não tire um fio de cabelo do lugar. Bloqueie o vento e o sol. Desvie-nos dos pingos de chuva.
É isso o que certa vozinha irritante vive nos pedindo aqui dentro.
É a forma como vemos tudo, afinal. Sem estar aqui para saber de verdade, quem o outro é. Querendo que nos contente, que atenda às nossas expectativas de como os relacionamentos devem ser. Querendo que o outro aja da forma que nos fará mais felizes. Bem, isto não é amor. É um desejo doente de brincar de deus. Criar pessoas.
Quem na verdade mantém relacionamentos saudáveis depois que começam as decepções e mágoas que, inevitavelmente farão parte de qualquer tipo de troca humana?
Família, amigos, maridos, namoradas, colegas. Quem realmente resiste ao crivo de nossa escala classificatória? Nem nós resistimos. Não aprendemos, sequer, a nos perdoar. A ser generosos e compreensivos com nossas próprias inaptidões.
Não queremos enxergar. Queremos que a existência à nossa volta seja simples reflexo das criações da nossa mente.

sábado, janeiro 06, 2007

"As coisas nem sempre são o que parecem" - disse o anjo mais velho



Sem nos dar conta, ofertamos ao infinito nossas intenções durante todo tempo. Quando despertos, quando adormecidos, quando conscientes, quando desconectados. Na loucura e na razão, erguemos em prece gritantemente silenciosa os nossos anseios mais profundos. Especialmente, aqueles sobre os quais nada sabemos. Aqueles que se ocultam no canto mais límpido da nossa configuração astral e direcionam, calados, os caminhos por onde aventura-se o nosso coração.
Falando, escrevendo, sonhando, pensando. Nos entregamos em prece constante na esperança inocente de que nossos desejos ecoem no universo e bulmerangueiem para nossas vidas.
Do Todo, não sabemos as razões. E pedimos um pouco mais. A resposta vem, fugindo à nossa estreita compreensão. O Todo age e nos impulsiona a agir. Nos troca o passo e a fala. Nos acorda o pensamento e o coração.
Nós, que sempre esperamos pelos dias de azul fácil, discordamos. A penas para perceber que " o que sabemos é uma gota" realmente. E que nos banharemos eternamente no oceano que ignoramos.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Desejos




Tudo por um segundo e todo tempo do mundo.
As escolhas, todas nas quais moramos ou vamos embora.
A crença inabalável na pessoa que, a um custo, construímos a cada dia. Perdendo pedaços, ganhando risos de dar laço nas estrelas.
Parceiros de viagem, os reais, de alma presente. Os que abraçam o abraço, descansam o cansaço e têm botões de rosa perfumados no olhar.
A disponibilidade para ser. Sempre, em qualquer situação, de todas as formas, em todos os encontros, com tudo o que há em um.
A coragem de assumir tudo o que vai no peito. Seja lindo, seja horrendo, seja dúvida, seja fel, seja seu.
A destreza para percorrer distâncias, de corpos ou de corações, de idéias ou de ideais, de tato, de fato, de gosto, de valor.
A sensitividade - que sensibilidade é be-á-bá do estado mais bruto que há - para estender, além da mão, o afeto. Do jeito exato que seja cabível, franco, tanto e honesto.
O calor da essência, marinado em caldo de sei-quem-sou-e-não-preciso-de-atestado.
A graça que, solta, sorri em todos os trajetos e além. Sorri para quem fica, sorri para quem vai, sorri para quem perde o rumo a caminho do que seja que lhe decore o espírito.
Originalidade. Tamanha, estranha, escorrendo das entranhas de um que jamais faz do sujeito, objeto.
O saber do quanto vale uma vida. Do quanto alcançam olhos de ver o céu.
O veto para o ser pouco. O teto para a oferenda de mãos dadas apenas. Oferecidas.
O OBRIGADO estendendo o corpo para a festa e o copo para o brinde ao que há de mais em um.
Dividir sempre, muito, quanto queira. Metade do que é meu e seu em outro, um terceiro que se faz de muitos.
Ir, sem precisar saber por onde, para quem, porque. Se não houver volta, a ida cumpriu seu destino. Se o retorno estiver na rota, construiu-se um mundo na passagem.
Em cada espinho, uma pétala de aprender.
E todo querer.

Amém.