quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Feitiçaria



"Acho que o mundo faz charme
e que ele sabe como encantar
Por isso sou levada, e vou
nessa magia de verdade"


Diga
se céus se fecham sobre os anjos
Diga
se mel derrama por encanto
Diga
se olhos gritam os silêncios
Diga
se as horas enfeitiçam ventos


A noite cai sobre o dia antes da manhã que inebria flores silvestres
libertas de jardins suspensos
Penso,
- Haverei de brotar pétalas vermelhas da entrega de luas boêmias?


Alcanço, então, tais noites caídas sobre os dias
nas pontas dos dedos desbotados de acreditar
repletos das gotas orvalhadas que brisam minhas sensações.
Deito-me sobre a passagem do tempo, sem lamento,
sem momento que não nasça imortais.

Ofereço séculos em sacrifício
transpondo o tempo que abraço em desnudeio.
rendida de sul a norte
peoa no garimpo de tesouros descendentes da boa sorte.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Minha

Observo-me cuidadosamente sem sequer me olhar.
Venho de vindas e idas, de idas sem vindas, de voltas, revoltas, partidas.
Mulher tem este jeito de se conferir, parece. Anotar ali no caderninho todos os seus pontos contra e a favor. Somar-se, subtraír-se, traír-se, sabotar-se, aplaudir-se. E de suas anotações, não se esquece jamais.
Não sei como é que funcionam todas as outras mulheres, embora tenha um bom parâmetro nas mulheres incríveis que conheço. Eu, porém, preciso ser cada dia mais minha. Sabe como é?
Você acorda de manhã, sem absolutamente nenhum aparente motivo para sentir mais ou melhor qualquer traço de existência que seja. Num giro de pescoço, voilá! Nota, a partir do nada que está tão bem para uma você... Nota que, mesmo que pudesse estar muito melhor, poderia também estar tão abaixo de si mesma em tanta coisa e no entanto esta aí: toda sua.
Travou suas batalhas e sabe que guerreará até o último dos seus dias de uma forma ou de outra. Chorou os seus medos, muitos do quais suspeita que não conseguirá se livrar. Ovacionou suas conquistas, ainda que silenciosamente, no íntimo dos seus pulsares. Ergueu-se pensando não poder ir nada além. Caiu, quando finalmente tudo parecia estar tão certo.
Estarreceu-se. Completa e profundamente, estarreceu-se com o que há de pior no ruim. Descobriu pequenezas e mesquinharias que sequer imaginava algum dia presenciar. Encontrou pedregulhos e montanhas no meio do caminho. Fez nascer asas. Não só aprendeu a nadar, mas foi contra a corrente dos pasteurizados.
Ser sua suprimiu quase sempre até as maiores carências. E até essas te fizeram sua como você só. Sempre que quis ou precisou do que quer que estivesse ausente, conseguiu um tempo de olhar um pouco mais pra dentro ou um tanto mais pra fora...mas, olhar. E viu, soube, percebeu. Verdades tantas de um interior. Jornadas fantásticas de saber-se e de ter-se. E a carência é tão necessária também. "Qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade..."
Esta sensação doída e revolta de despedaçar o casulo. E sempre solta para cada novo abrir de casulo.

Tenho este jeito de não negar minhas dores. De gostar delas da mesma forma que gosto das alegrias, achando que um choro sentido não é, nem precisa ser algo de mau. Lembro de um episódio, onde, doída até os ossos disse para uma amiga que nunca tinha me sentido tão viva. E aquilo foi tão sincero, tão real. Talvez a partir daí, eu tenha começado a ver certas dores que doem com outros olhos e a querer o 'não' tanto quanto o 'sim'. Talvez tenha começado a sentir a pontada profunda no mesmo grau de importância do riso pleno. Tão, tão bom que seja assim pra mim. O cerne da mulher que é sua.
O que muda da mulher-menina que um dia fui para a guerreira-feiticeira que um dia quero ser, eu não sei. Mas elas são lados idênticos da batalhadora que sou hoje. Luto lutas erradas também. Muitas. Em tantas vezes o combate não parece bom. No entanto surgirão sempre novos combates, tenazes, confusos, vãos. Nada disso me importa, nada disso afugenta quem eu sou ('sou' do que já sou e do que talvez nunca seja).
Observo as imperfeições que são tão eu. Me sinto em cada palmo de pele exposta, em cada tremer de cílios, em cada vontade de me surpreender um pouco mais comigo.
Tão minha que posso ser de quem mais quiser.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Would you light my candle?


Ascendendo minhas velas...
Aqui dentro, primeiro
onde espero que elas sempre estejam.
Talvez haja luz o suficiente
nas velas de dentro de cada um
para trazer para o lado de fora
um flash...um relâmpago...
Velas que são sempre a prece silenciosa
para que se viva o espírito
para que se cale a indiferença
para que se dê luz ao que há de humano
na divindade que habita em nós.
Velo pelo ser.

domingo, fevereiro 11, 2007

Cartas a um Jovem Poeta - Primeira Carta


Paris, 17 de fevereiro de 1903


Prezadíssimo Senhor,


Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizívies quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera. Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema Minha alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema A Leopardi talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente. Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou. Mas talvez se dê o caso de, após essa decida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o Senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de sua consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir. Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa. Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Horacek; guardo por este amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste meu sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la. Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho. Com todo o devotamento e toda a simpatia,

Rainer Maria Rilke

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Naftalina

Perambulando em escritos que ficaram esquecidos, para os quais eu gostaria de me redimir e dar um pouco de atenção.

A Verdade

Eu estou aprendendo
Estou aprendendo a caminhar
Estou aprendendo a me defender sem atacar
Estou aprendendo a ficar de pé diante das palavras duras
Estou tentando aprender a suportar os meios necessários
para chegar aos fins.
Eu estou aprendendo
que nem todo sorriso é amizade,
Nem todo carinho é confiança,
Nem toda ausência é rejeição
Eu estou aprendendo e vou continuar a aprender
que nada é o que parece ser
que dores profundas, às vezes significam
felicidades futuras
Que mal-entendidos continuarão imcompreendidos
se não forem devidamente explicados
Que se pode detestar momentaneamente
pessoas a quem se ama profundamente
Que as maiores dádivas da vida
chegam sem se anunciar
e podem partir com a mesma sutileza
E mais do que isso,
muitas das maiores dádivas
estão presentes diariamente.
Estou sempre aprendendo
que nenhuma mágoa pode me destruir
que nenhuma decepção pode me diminuir
que nenhum dos ataques cotidianos que acontecem a todo momento
podem endurecer meu coração.
Estou aprendendo
a lutar para ser
o que eu quero ser,
e a descobrir o que preciso saber
E que, meus objetivos
são muito maiores do que todos
os buracos do caminho
Que eu sou muito mais eu
E que tudo,
absolutamente tudo
é apenas uma questão de resistência.
(28 de abril de 2003)

Cavalos e Borboletas

A frustração, hoje
está cortando na alma.
Desenfreada
como um puro-sangue
sem rédeas nem cavaleiro.
Consigo ver minha frustração,
negra, lustrosa, imponente
correndo louca
pelos campos sem fim
Aquele momento de lucidez
onde algo no seu âmago
exige
que hajam mudanças
Que, a partir de agora,
o passado esteja proibido
de ser visitado
e o futuro, proibido
de ser imaginado.
No presente,
a mais insaciável
ação
A potência máxima
da iniciativa
A atitude sem lamento,
sem senão
e o medo repudiado
e condenado ao esquecimento.
A afirmativa incontestável
da constância que existe
única e tão somente
na mudança.
Transformação total
e os olhos brilham
reconhecendo as borboletas
saindo com esforço do casulo
e voando para outros céus.
Pousando em todas as flores
sem levá-las consigo.
As borboletas da realização
dando adeus e pousando novamente
a todo instante
E os cavalos da frustração
correndo velozmente sem destino.
(23 de março de 2003)

Alma Supostamente Gêmea

Te escrevo
Para dizer que
comigo está tudo bem.
E com você, também?
Tenho tido
alguma dificuldade
em encontrar
meu caminho.
Talvez por isso
ainda demore um pouco
para chegar até você.
Espero que não tenha problema...
Você já sabe qual é o seu?
O seu caminho, quero dizer.
Me escreva contando os detalhes.
Quero saber qual a sensação
de encontrar.
Como é que você soube que era
o seu caminho?
Está feliz agora?
Será que é por isso
que sinto a felicidade tão perto?
Às vezes fica tudo estranho
Como se estivesse assistindo
ao filme da vida de outra pessoa
Sabe como é?
Você sente isso?
Você escreve quando não pode
dizer o que sente?
O que é que temos em comum?
Você também precisa
de música para viver,
como se fosse o ar?
Você também acha que
o êxtase máximo da vida
é aquele breve momento de plena harmonia?
Você também desconfia sempre
de quem não expõe tudo o que pensa?
Você também se irrita terrivelmente
com quem não tem
muito o que dizer?
Você já chegou ao cúmulo
de escrever para alguém
que pode perfeitamente
não existir???
Você acha muitíssimo difícil
entender as pessoas ou
prefere pensar que
as pessoas não são feitas
para ser entendidas?
Bom, no mais,
acho que está mesmo
tudo bem.
Acho que as coisas,
por alguma razão misteriosa,
estão exatamente onde
deveriam estar,
embora eu não tenha certeza
do que isso signifique.
E você, o que acha?
Será que algum dia
eu vou saber?
Sem mais, fico por aqui
Eternamente sua
se a eternidade existir, é claro.
(26 de agosto de 2003)

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Os Afins


Encontrei este texto por aí. Simples, direto, real. Trouxe uma lembrança boa de seres afins , de momentos afins, de verdades afins. Trouxe um olhar bom sobre as sensações mais sutis e mais inteiras que se pode provar na vida, tão fáceis de ignorar, de não se dar conta. Tão necessárias pra gente poder fazer algum sentido. O afim não sabe como , porquê nem de onde é afim. Não tem razão , nem se dá conta de si. Mas significa. Pura e simplesmente, é.

Não sei o que faz de uma pessoa um ser afim. Mas o ser afim se nota, brilha por si. A energia afim abraça, enlaça, conforta, completa e sorri.

Vivemos despreocupadamente - quase sempre - as nossas vidas. Sem saber mais, poderíamos tranquilamente ir até o fim sem encontrar um afim que fosse. E, nas vezes em que acontece, permanece e nos faz perguntar para que é que poderia valer nossa estada aqui sem este brilho.


"AFINIDADE não é o mais brilhante,mas é o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência,os adiantamentos,a distância, as impossibilidades.

Quando há AFINIDADE,qualquer reencontro retoma a relação,o diálogo, a conversa,o afeto, no exato ponto de onde foi interrompido.

AFINDADE é não haver tempo mediante a vida.
É a vitória do adivinhado sobre o real, do subjetivo sobre o objetivo,do permanente sobre o passageiro,do básico sobre o superficial.

Ter AFINIDADE é muito raro,mas quando ela existe,não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento,irradia durante e permanece depois que as pessoas deixam de estar juntas.

AFINIDADE é ficar longe,pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam,comovem, sensibilizam.

AFINIDADE é receber o que vem de dentro com uma aceitação anterior ao entendimento.

AFINIDADE é sentir com,sem sentir contra, sem sentir para.
Sentir com e não ter necessidade de explicação do que está sentindo. É olhar e perceber.

AFINIDADE é um sentimento singular,discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância, mas é adivinhado na maneira de falar,de escrever, de andar, de respirar...

AFINIDADE é retomar a relação no tempo em que parou.
Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram.
Foi apenas a oportunidade dada (tirada) pelo tempo para que a maturação pudesse ocorrer e que cada pessoa pudesse ser cada vez mais."



(Artur Da Távola)

domingo, fevereiro 04, 2007

Noites com Sol


Feito de música é meu coração.
Defeito, efeito
Pulsa, bate, apanha
Toca.
Teima em não ver-ser, em não crer-se
Em não crescer
Teima em não estar
onde o quer o mundo.
Perde-se, o músculo,
nas notas, nos arranjos, nos acordes
da canção
Encontra-se, abraça-se, arrasa-se
cantiga de mimar-se
Quem seria esse a quem chamo
meu coração?
Vão preso
- vívido, cínico, solto
no quase
No meio da distância
que se insinua para tudo o que deseja
Antecipação.
Seria o sono profundo do pensar ?
Talvez sepulcro sem lápide do entender ?
Balão em vôo sem destino?
Parceiro da música,
este transporte involuntário de quases
delivery nomeado das imensidões escondidas
sob dós e sols.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Canto porque o instante existe


A verdade dos cristais é reluzir.
Cristais existem na força da sua fragilidade e não têem como esconder nada. São, ainda, de uma transparência desconcertante. Emitem e refletem a luz, unem o brilho de dentro com o brilho que mora fora. São espelho para os outros todos elementos que lhe cercam.
Enchem-se, esvaziam-se... Viram taça para todos os tipos de licores, viram jóia para todos os tipos de riquezas, viram símbolo para todos os tipos de amores.
Pessoas são tão cristais...Na sanidade infértil, na loucura embebida de pulsação.
Nos vendavais que redemoinham no recôndito do espírito. Nas tempestades que inundam sentimentos da dor de existir.
No desarvorar da fortaleza de cada ser, procurando abrigo, arrego, amigo. No poder imortal de saber-se finito, e assim, bonito, encher-se de raízes e de asas.
Pessoas são onda salina que se desmancha e deslancha repentina porque soube da praia. São arco do mais puro triunfo, que se orgulha pelo súbito vislumbre de realizar.
Pessoas querem e podem tudo. Pessoas não entendem o mundo.
Pessoas sentem falta de uma casa distante que mora dentro, de um colo de mãe que acalma o tormento, de um encontro redentor que lhes aporta no cais.
Do caos, lamento. Saudade de quem foi, do sonho que estilhaçou, do plano perfeito que falhou deixando só o coração.
Na garra exaurida da guerrilha perdida, apresentam-se as novas armas. Sabotam-se, sem o saber... quando, instante breve, quase crêem não poder. Mas armas passadas não abrem caminhos. Sabem-se maiores, vivem-se melhores, sentem-se totais.
Intocáveis pessoas de riso, gozo e olvido. Indestrutíveis pessoas de dúvidas certas e afirmações equilibristas. Sarristas de si. Sonoro abrir de sorriso, liberto, desperto em manhã de conquistar ao seu par mais perfeito: seu profundo, particular encontrar.