quarta-feira, abril 25, 2007

A (Má?) Criação


E Deus criou o homem.
Criou e cuidou de sua criação, para que fosse provida de todos os recursos essenciais. Inteligência, humor, percepção, sensibilidade, adaptabilidade, curiosidade, generosidade, coragem, leveza e tantos outros dons não menos importantes.
Veja que, prover, não significa garantir que a criação fará uso do que recebeu.
Cada criatura pode e deve observar ao longo dos anos, como, quando e porque precisará da mais plena presença de espírito para saber utilizar os dons divinos.
Durante a viagem, milhões de forças contrárias vão fazer de tudo para dificultar a prática que lhe coube. Tudo nas forças contrárias - que me pego a questionar se seriam mesmo contrárias - trabalha para que, uma vez mais, a criatura saia de si mesma, enxergue muito, faça além e vença outra vez. O destino da chuva é ceder pela passagem do sol. Garoa ou tempestade, ceder pela passagem do sol. Fato.
Fato também, que às vezes não dá. Não dá pra parar o correr da água e sentir os raios esquentarem e é claro que por isso a criatura é criatura. Ou seria divindade também, como o seu Criador.
É preciso que se respeite por isto, as excessões. Certo, respeito concedido. Tudo compreendido, benefício da dúvida ofertado. As criaturas todas têm direito também de não querer os dons. Não precisar, não ver, não sentir falta. E que todas façam então, como bem quiserem, pois LIVRES, Deus as criou. Máxima inviolável, inoxidável, impermeável, ''imexível''.
Inteligência (para elaborar), humor (para saber o lugar das coisas), percepção (para se dar conta do invisível), sensibilidade (para captar verdades), adaptabilidade (para dançar a música que toca), curiosidade (para não contentar-se com o que já é), generosidade (para se repartir e lutar junto), coragem (para desbravar o mundo e a si mesmo), leveza (para gravitar sem peso pelos acontecimentos), todos presentes entregues por Aquele que fez o homem existir.
É muito.
Em retribuição, Deus aguarda pacientemente no dorso do seu cavalo alado, pelo momento na vida de todo homem de querer se criar.
Só o homem sabe quando o momento há de chegar.

sábado, abril 21, 2007

Pessoalizações


Tornar pessoal
o que é geral.
Deixar de ser genérico
para ser único.
Ser promovido de alheio
a seu.

Tudo o que toca,
que antes, poderia
passar-lhe solto, sem perceber
E agora, morada faz
nos seus ais e pulsares
na epiderme e olhares.

domingo, abril 15, 2007

Angelus

O melhor do amor é saber que ele pode se fazer notar.

A suprema felicidade de um momento é quando você, numa situação comum qualquer, consegue sentir de um jeito quase palpável o apreço que alguém te dedica. É uma forma de olhar, de querer te ver pra sentir ao vivo se você está bem de verdade, de te ligar porque uma bobagem lembrou você, de modular a voz porque há um tom dedicado especialmente a você, de cantar sorrindo a música que você apresentou, de investir um tanto de tempo matutando para, quem sabe, chegar ao desfecho de um dilema que, em teoria, seria só seu. É querer com toda a força do sentimento que você esteja feliz, que os males não te atinjam, que as alegrias façam morada na sua história.
Aqueles sentimentos lindos todos que afloram no seu aniversário, no Natal ou em uma conquista que, por mais simples que seja ao olhar alheio, é gigante aos olhos de quem te ama e sabe o que aquilo significa para você.
Tem uma lenda que diz que os anjos tiram folga no dia do seu aniversário porque tem vários outros cuidando de você e te cercando das melhores vibrações. E emociona pensar nesta luz tão sincera, tão íntegra e tão acolhedora que chega vinda de outros mundos em forma de gente. Emociona perceber que, se amanhã você deixasse de existir, faria falta para pessoas cuja beleza te comove tanto. Pessoas que amam sem perceber, tão inerente é o amor à sua forma de estar na vida. Pessoas que te amam quando você não está olhando. Pessoas cujo coração aperta em prece para que tudo corra bem nos seus momentos cruciais. Pessoas que gostam de rir com você e embora prefiram jamais te ver chorar, te deitam nos ombros a que distância for para secar suas lágrimas.
O amor, esta aliança de seres que erram tanto e por isso merecem tanto ser amados. Esta força que assume tão variadas formas que nos impossibilita de conhecê-las. A não ser um pouco, talvez, pelos olhos dos amores que amamos.
Nem todo amor é reconhecido, nem todo amor é desejado, nem todo amor é alimentado. Amores também se perdem em abismos de dois segundos. Amores também pecam ao dizer a que vieram e falham e se escondem às vezes.
Ainda, a verdade inescapável do amor é preencher. Seja alguem que ama, seja alguém que é amado. O amor, na onipresença indiscutível do seu existir, dá sentido. Confere o porquê. Junta braços em abraços de laços que não se enxergam, mas em algum momento, se sentem. A ausência de um amor, nenhum outro amor preenche. Mas os outros amores jamais diminuem qualdo algum falta. O amor é independente, é auto-suficiente, é justo. Faz-se mortal ou imortal, conforme queira e precise.
O amor nos vigia silenciosamente e, sem que possa nos guardar do mal, nos carrega no colo e sussurra uma cantiga doce e perfeita até que a dor passe.

O amor existe.

terça-feira, abril 10, 2007

Cansei de ser racional*

Eu quero uma casa no campo onde eu possa compor muitos rocks rurais.

E viver assim, de plantar discos, amigos, livros e nada mais.
Embarcar nas aventuras reais e inteiras, da alma, do espírito
Pro que der e vier , viver da ligação comigo
E em mim, o todo, o tanto, o tudo...todos.
Afinidades de gente que se tem em comum
Mentes expostas, flores abertas de um para um.
Tim-tins por tim-tins me cansam deveras
Às cegas insistindo às vezes
em entendimentos vãos, que só se darão
no desracionalizar.
Escrever âmago e essência
essa que eu nem sei qual é, pois quem sabe é a cabeça
Essa na qual planto ponta-pés.

*Louca de sede por beber nestes outros tanto quanto loucos, membros desta seita sem nome, sem evangelho, sem teorias encontradas porque vive a teoria prática de encontrar-se a si.
- Vinde, irmãos!

"A verdadeira aventura tem que ser naturalmente louca, desmedida, caótica, pulsante, radical. Mas o aventureiro tem que estar sempre consciente. Quando o aventureiro perde a lucidez, deixa de ser um aventureiro, e passa a ser apenas um idiota metido a besta. O louco tem que ser lúcido. Lúcido e inteligente."