terça-feira, novembro 21, 2006

O Kamikase



No intervalo de cada bater de asas tomava profundo fôlego. Atravessando a nuvem espessa cerrou os olhos e planou, crendo tão somente no Bem, que traria o céu de depois pleno de azul continuado e não, o rochedo escondido em meio a neblina.
Ah, a fé. A tal que programava os vôos, que calculava as distâncias, que abraçava os medos, que socorria as turbulências, que esticava as asas, que saciava as ausências, que dignificava as máculas, que sustentava os sorrisos, que conduzia as lágrimas, que embalava as inversões, que plantava o nascer.
O solo que se entrevia não mais parecia uma opção, tampouco uma oportunidade. O que seria o pouso, senão a finitude de tudo o que alçara até então? O que seria o chão, não mais que uma fuga para um universo ao qual não ansiava em pertencer? O que seriam os alertas enganadores, senão a covardia da mente tomando posse de um espaço que não era seu? O que seria o erro, além da ponte que, ávida, esperava para atravessar enfim os oceanos, as montanhas, as barreiras de som incomensuráveis? O que seria o fel, esta falsa noção de impossibilidade , traiçoeiramente impodo-se como teste a toda imortalidade que julgara conquistar?
O zunir do vento ecoava desafiando pensamentos débeis na tentativa de provocar a desistência da racionalização enganadora. Só se salvaria no vôo, aquele que abandonasse a explicação e sorvesse, sedento, o deslumbramento.
O peito descompassado sabia como ir adiante. Sabia que não cairia de um segundo andar qualquer, pois voava para além do surgir da aurora; amarela de acreditar.

12 comentários:

Uri disse...

Fui o último a chegar na festa da casa nova:)?
Lindo post, lindas fotos, linda alma por trás dos pixels. Essa sua existência real contribuiu para um processo que resultou no fato de eu atualizar o fotopalavra, hehehe.
Beijão.

Uri disse...

Como diria Clarice Linspector, é impossível diferenciar o que é fictício do que é experiência humana. Ainda que esta experiência seja elaborada e fantasiada no mundo das palavras. Tudo bem sim, melhor impossível. Saúde, vitórias pessoais, tudo seguindo. E aí?

Uri disse...

Registro: Adorei o extremo sul. Você é montanhista também, bia? eu sou (novato, mas sou)

Anônimo disse...

É muito gostoso voar nos pensamentos, planar e perceber o ar, o mundo em volta, que é perfeito com suas imperfeições. Planar, confiar na atmosfera sem medo...
Besos!!!

Anônimo disse...

Só quem sonha e acredita em sonhos é capaz de sentir a vida em sua plenitude!
Seu texto é bonito demais, moça! Tou levando comigo. Qdo for publicar (com todos os créditos, obvio), te peço autorização, tá?
Beijão

Anônimo disse...

Pássaros azuis
Pássaros vermelhos
Pássaros verdinhos
Pássaros

Nas cores deste céu tem pássaros brincando
Nas cores desta terra tem pássaros, pássaros!

Esta é das antigas! Bjão!!!

Anônimo disse...

Bia,meu abraço saudoso tambem.Sempre bom visita-la e encontrar belos textos que falam á alma.Reflexoes precisas,urgentes que falam num sussurro as coisas essenciais.Sua delicadeza de ser e dizer me dá uma boa calma.Calma sem ansiedade,as vezes preciso parar um pouco(dificil no momento)mas ,sempre existe um alerta e ele soa,assim como de repente voce,trazendo stes textos.Eu sou esse kamikase ai.Mergulho e voo(somos semelhantes nesta busca).Nao gostaria de causar medos ou sei lá...espanto?Mas enfim,sou esta contradiçao voadora!É um prazer imenso recebe-la.Li todo os post(S),adoraveis.Querida amiga,volte sempre que possível,estarei por aqui.beijo.Dexy

Guillermo de Baskerville disse...

"Ícaro
como un pequeño dios
desafiando al sol
Y ahora yo
que soy pequeño gorrión
y quiero el nido abandonar
Y aunque a veces me asuste volar
lejos del cobijo de un hogar
Sé que habrá un viento cálido más
para dejarme llevar" - Presuntos Implicados

Peço perdão pela extensão, mas não resisti.
Lembrei-me do episódio de Ícaro, da Mitologia Grega.
Ícaro esquece a razão, imposta por seu pai na forma de conselhos e parte a caminho do sol, deslumbrado com a sua beleza.
O final da história creio que é popular...

Seremos todos "pequenos Ícaros", desafiando todas as leis que nos prendem à terra, numa constante fuga não sabemos ao certo de quê. No entanto seremos diferentes na ponderação da altura que pretendemos alcançar.

Obrigado pela visita.
Voltarei.

Anônimo disse...

Hummm.. delícia! :)

Anônimo disse...

A certeza tem as correntes soltas... prisões abertas. Abraços

Nathali disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Nathali disse...

Bia... pelo amor de Deus... você é simplesmente maravilhosa!
Parabéns!..

Um beijo super especial e carinhoso dessa que adora teus escritos.. ;)

Bjo! Bjo! bjo!.. ;*