domingo, outubro 29, 2006

Você tem fome de quê?


Life is what happens while you're busy making other plans, disse John Lennon.
Não sei dizer se faço planos. Alimento sonhos, eu diria.
Realmente, enquanto isso, a vida acontece.
Não tennho lógica,
Meu nexo tem características aleatórias e impalpáveis
Sou a pessoa menos imparcial que já conheci, para o meu próprio bem.
Não quero o ritmo do mundo. Palpito no meu ritmo.
Fora de órbita, fora do prumo do ideal
Sateliteando ao redor de uma visão do talvez.
Lado ilógico da criatura imprópria
para menores de pensamento.
Idéia que não voa, que viveu à toa
morre à míngua , à parte do presente
que pressente a finitude
do seu devanear.
Só fugir um pouco
até o próximo retorno de saturno
borboleteando fora do casulo
gravitando solta no ar.


E quando ouço esta musiquinha quase boba, quase bela, me causa nos sentidos uma sensação de me esparramar. Boa sensação. Bom descobrir pequenos pedaços de eternidade que nos levam a viajar sem deixar o lugar.

" As curvas no caminho, meus olhos tão distantes,
Eu quero te mostrar os lugares que encontrei
Como o céu pode mudar de cor quando encontra o mar
Um sonho no horizonte, uma estrela na manhã
De repente a vida pode ser uma viagem
E o mundo todo vai caber nesta canção
Vou te pegar na sua casa, deixa tudo arrumado
Vou te levar comigo pra longe
Tanta coisa nos espera, me espera na janela
Vou te levar comigo
Eu quero te contar as histórias que ouvi
E nas diferenças vou te encontrar
O amor vai sempre ser amor em qualquer lugar
Vou te pegar na sua casa, deixa tudo arrumado
Vou te levar comigo pra longe
Tanta coisa nos espera, me espera na janela
Vou te levar comigo "

E você, tem fome de quê?

quarta-feira, outubro 25, 2006

Estoy aqui

Alô 1
Especialmente para meu amigo José e a todos que se possam interessar, O Poço e a Mola está atualizado em http://opocoeamola.blogspot.com

Alô 2
Estou muito feliz com esta casa nova e com as visitas ilustríssimas que tenho recebido até aqui. Com o muito que aprendo e me renovo com os comentários que leio. Cada um merecia um post.

Alô 3
Devo ter feito algo de errado, pois o Mi Casa não está me permitindo postar imagens...Suspeito que possa ter sido ao incluir os links. Alguém entende de html para me socorrer???

beijos imensos.

segunda-feira, outubro 23, 2006

A porta escrito "não consigo"

Encontrei um livreto de bolso do Rubem Alves (Se eu pudesse viver minha vida novamente) que reúne alguns pequenos textos que nos trazem um tipo de sabedoria que apenas ele e mais alguns poucos poderiam. Logo de início, nos deparamos com um texto a partir do título que vem na sequência do poema de mesmo nome atribuído tanto a Jorge Luis Borges quanto a Nadine Stair (aquele onde ele diz que "trataria de cometer mais erros, não tentaria ser tão perfeito" e segue citando todas as precauções que não teria e de que forma aproveitaria mais e melhor seu tempo, lindo!). Rubem faz, digamos, a sua própria versão do que faria se pudesse viver sua vida novamente, a qual muito me emocionou e tenha sido talvez a razão pela qual o livreto me caiu nas mãos . Diz assim:
"Se eu pudesse viver minha vida novamente, eu quereria vivê-la do jeito mesmo como a vivi, com seus desenganos, fracassos e equívocos. Doidice? Imaginem que eu estivesse infeliz. Eu teria então todas as razões para voltar atrás e tentar consertar os lugares onde errei. Mas eu não estou infeliz. Vivo um crepúsculo bonito, com a suíte número 1 de Bach, para violoncelo. Se houve sofrimentos no caminho, imagino que, se não os tivesse tido, talvez a suíte número 1 de Bach não estivesse sendo ouvida. Estou onde estou pelos caminhos e descaminhos que percorri.
Eu estou onde estou porque todos os meus planos deram errado. Isso é absolutamente verdadeiro. As pontes que construí para chegar aonde eu queria ruíram uma após a outra. Fui então obrigado a procurar caminhos não pensados. E aconteceu, por vezes, que nem mesmo segui, por vontade própria, os caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me empurrou. Fui literalmente obrigado a fazer o que não queria.
Sofri a dor da solidão e da rejeição. Mas foi esse espaço de solidão na minha alma que me fez pensar coisas que de outra forma eu não teria pensado.
Plantei árvores, tive filhos, escrevi livros, tenho muitos amigos e, sobretudo, gosto de brincar. Que mais posso desejar? Se eu pudesse viver a minha vida novamente, eu a viveria como a vivi porque estou feliz onde estou."
Mais adiante, no final de outro texto, completa: "Porque a vida é bela a despeito de tudo. 'A despeito de': é aí que moram os deuses. E os poetas".
E são tantos outros momentos assim, desta beleza contundente, que eu poderia tranquilamente citar o livro todo que, apesar de pequenino, contém grandes verdades sobre sentir, ver e viver a vida atavés deste olhar que nos lembra porque estamos vivos. São raros estes momentos, onde decidimos lembrar. São raros os momentos onde conseguimos parar tudo o que fazemos que não nos levará a nenhum dos lugares onde queremos chegar, e lembrar com a alma porque é que acreditamos estar aqui.
Em mim, por muitas vezes bate a vontade de passar uma borracha em tudo que ficou para trás e começar fresca, do zero. Muitas vezes bate a sensação de ter feito tudo errado - sensação tanto enganadora quanto injusta comigo e com as minhas próprias decisões, diga-se de passagem.
Ocorre que a vida pede para ser assumida e são tantos e tão diversos os caminhos, que às vezes me assola a estranha sensação de não haver verdadeiramente assumido nenhum. De haver apenas ficado em cima de um muro cósmico esperando que algum fator sobre-humano me derrubasse para o melhor lado. Isto não é algo tão inseguro e fraco quanto possa soar à primeira vista. Veja que, entre o início de tudo e hoje, vieram muitas e muitas escolhas e decisões - até porque eu sou do tipo incapaz de permitir que alguém decida qualquer coisa por mim - mas o que me mata é nunca ter conseguido ter certeza de uma escolha certa. Eu também, como o Rubem, estou no time daqueles que andaram muito mais na vida através dos "planos" que deram errado. Ou daquilo que imaginei, já que tenho a mesma dificuldade em fazer planos que tenho em estar certa do caminho a escolher. Me parece que o movimento da vida é por demais avassalador e pontuado de senões e desvios sobre os quais não sabemos para que se afirme qualquer coisa com tanta certeza assim. O imponderável sempre se apresentou a mim como um personagem por demais determinante para ser ignorado. Aguardo que o imponderável escolha, então? De forma alguma. Sua força existe, porém. E de tempos em tempos se instala em nossas vidas como que querendo nos turvar - ou limpar - a visão e os outros sentidos.
Fico eu - e o Rubem - tentando me safar do nevoeiro/chuvisqueiro, com as parcas certezas e as dúvidas cintilantes.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Os desejos presos no olhar




No alto da montanha estava eu. Inacreditavelmente, estava eu. Me senti um misto de Glória Maria numa de suas reportagens-expedição, com Fraulein Maria - a noviça rebelde - viajando no sound of music e explicando que nunca se perderia na montanha, pois a montanha era dela.
Nunca tinha pisado naquela montanha, sequer naquela cidade e mesmo assim, me senti involuntariamente como parte da paisagem, como fosse a coisa mais natural do mundo estar ali compondo aquele cenário de uma simplicidade mágica e perfeita. A montanha era mesmo minha. Nos pertencemos desde a primeira troca de olhares. Não nasci ali, mas provavelmente tenha nascido também para estar ali. Para, privilegiadamente, olhar a compacta cidade do alto de todos os seus melhores ângulos e sentir a completude que vai além do que a mente pode explicar.
Para quê a mente quando a alma se mistura ao ambiente e me torno uma com o existir e todos os elementos? O fogo, através do sol que queimava e se escondia; a água através das nascentes semi-secas do fora de época e do suor satisfeito que escorria; o ar através da brisa que brincava de refrescar e trazia fôlego para o corpo que teimava em não se deixar cansar; a terra que embalava, protegia e ensinava o melhor caminho.
Quase dois dias no Paraíso. Tão pouco e foi o suficiente para que eu me rendesse totalmente. Bastou um olhar de longe e eu estava entregue àquele horizonte onde o tempo não existe e os campos e colinas te abraçam deixando um perfume de vida. A vida na sua origem mais íntegra. Sem maquiagem, sem concreto, sem o frenezi das avenidas, comércios e referências culturais que consumo tão vorazmente.
Jamais poderia imaginar que sentiria falta do mato e dos insetos quase mansos quando pisasse de novo na selva de pedra. Senti. Os aromas, os sons, as pessoas tão diferentes da cena que havia acabado de deixar, me impactaram inexplicavelmente. Eu que gosto do burburinho do ritmo antenado dos shoppings e avenidas, tanto quanto gosto da serenidade cheia de pulso que o distanciamento da "civilização" oferece. Por um momento a civilização me pareceu sonsa e desnecessária. Um daqueles momentos onde se sente ter ido a outro mundo e retornado para contar a história. Estou contando, então. Afortunada eu, que já pude experimentar alguns mundos aqui dentro deste universo.

"Ói , ói o céu
Já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu
É um céu cravejado, rasgado, suspenso no ar
Vê, é o sinal
É o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Amém."

segunda-feira, outubro 02, 2006

Sala de Estar Bem


Talvez eu esteja hibernando um pouquinho as minhas emoções, ou sensações, ou sentimentos, nesta transição de um espaço virtual pra outro. Ainda não tenho certeza - hahahahaha eu tendo certeza é coisa que ainda está pra ser vista. Me parece que a minha mais que amada Balada do Amor Inabalável (da qual sinto a pontada de saudades só em falar) está caminhando para já haver cumprido a sua função, seja ela qual fosse.
Pelo sim, pelo não, transfiro meus amores, dores, inquietações, explosões, desesperanças e reflexões para cá, sem entender ainda porque. A verdade é que, sem deixar de ser a Balada Inabalável - que está nos meus poros, na minha alma - eu venho entrando cada dia mais fundo na realidade de que "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Daí a vontade de explicitar, mais uma vez, que eu sou sua, sou você, e a minha casa é a sua casa, sempre. A Balada mesmo sendo eu a todo minuto, ainda hoje eu, começa a soar para mim como um projeto demasiado solo, mesmo que não seja. Não entendo e nem preciso, mas o coração, hoje, diz assim.
Puxei, como referência, um dos meus pedaços expostos com todo o amor inabalável do meu ser, para dar um pontapé incial:

Não preciso que você me compreenda. Não preciso que você concorde com meus métodos tacanhos e imperfeitos de operar. Não preciso que me cubra de falsos ou verdadeiros elogios, nem que me categorize numa escala sua - e portanto tendenciosa - de 0 a 10. Eu não preciso ser exemplo de nada para ninguém. Não preciso, sob nenhuma hipótese, ser aprovada pelos parâmetros do politicamente correto, tampouco preciso estar dentro de padrões que não criei. Não preciso do seu suposto status, nem de glamour, nem de aplausos, nem de troféus, nem de gratificações de bom comportamento. Eu não preciso ser a funcionária do mês. Com certeza absoluta, eu não preciso de lugar n'alguma capa de revista. Não preciso das melhores festas, dos melhores vinhos, de cadeiras na primeira fila. Não preciso do cabelo perfeito, do nariz perfeito, da frase perfeita. Sei que não precisaria nunca de rodas sociais, de tapinhas nas costas, de sorrisos insinceros, mas oportunos. Não preciso que me salve, não preciso que alimente meu ego carente, não preciso que seja moldura para o meu retrato nem que me use de adorno seu. Eu nunca me contentaria com tão pouco. Preciso de muito mais. Eu preciso da sua face verdadeira, de enxergar as suas verdadeiras cores. Preciso que discorde de mim e me faça ver além do meu umbigo. Eu preciso que ouça as palavras que não sei como dizer, que esperneiam dentro do meu coração. Preciso que respeite minha fragilidade, meus medos, minhas dores. Preciso desesperadamente, de ter espaço para ser. Eu preciso de liberdade para mudar de idéia e para não mudar. Muito mais do que admito, preciso do colo não-condescendente, o companheiro de luta que não vitimiza nem diminui. Preciso do calor de ouvidos atentos e olhos despertos. Preciso do amor que não cobra resultados ou recompensas. Preciso da crítica que não calunia nem ofende. Eu preciso do cuidado de quem saca que lida com material inflamável de extrema vulnerabilidade. Eu preciso do humor e da alegria que me fazem gargalhar a alma. Eu preciso do incondicional, preciso do vital, preciso do não-perecível, preciso do total. Eu preciso do irmão. (23/02/06)