terça-feira, março 06, 2007

Teia

Eu vi a vida chegar de repente.

A vida, naquele sentido da linha no tempo à qual você pertence. Cada um na sua própria linha, infinita. A vida, como emissor, receptor, invólucro, veículo, mapa, estação.

Um varal no qual você pendura suas peças aleatoriamente, sucessivamente. Troca as peças que secam pelas recém-lavadas, perde prendedores, colore a corda como quiser, mancha blusas, rasga calças e continua nesta dança, sucessivamente. Desavisadamente. Descuidadamente.

E os varais se cruzam, todos. Pessoas que estão há muito tempo na sua vida - seja a que distância for - e pessoas que estão desde sempre, fazem sem que você saiba ou perceba, muitos desenhos no seu céu.

Vidas que influenciam vidas desatinadamente. Gente que chega pra ficar e gente que vai pra nunca mais. Gente que não sabe se foi. Gente que a gente não sabe se quer que vá, ou pra onde.

Perto é um lugar que não existe, ao contrário do que disse Richard Bach. Porque perto pode ser em qualquer lugar. Pode ser no coração de alguém que você ainda nem conheceu. Pode ser nas pessoas que você soube perto a vida toda sem imaginar que o perto era tão perto que se tornava dentro. O perto pode ser o mais distante também e te enganar. Fazer acreditar que estava ali, sendo miragem sem oásis.

E assim, sucedem-se as peças no varal. Paralelam-se e entrelaçam-se varais. E a vida, de repente. Embrião incubado no seu ser , para nascer a qualquer hora. Pó de universo incensado sobre as cabeças como punhais ou como coroas de flores.

Tempo rei.
Vida, louca vida. Contínua, anciã e de repente.
E você, de poros abertos para a existência.

4 comentários:

Anônimo disse...

Um balé, uma dança... Um flamenco, um tango. Sem tempo, sem ensaios... E divinamente bela. Onde Deus harmoniza todos os improvisos. E desenha todos os destinos, na liberdade das nossas mãos, em linda e fascinante parceria.

Beijo, poeta querida... E mais beijos!

Barbara disse...

Bela teia circular, é esse o jeito que eu a vejo, a vida. Ininterrupta, sem espaço ou tempo, somente reencontros, sem um primeiro ou último.

Anônimo disse...

Vida é uma dança sempre incompleta,é musca de jazz,é sinfonia inacabada é...improviso!Belo texto.Aproveito para desejar-lhe um bom dia da mulher(todo dia sempre é).Fica um abraço universal.

Anônimo disse...

Olá, linda... a vida sempre valendo a pensa de ser vivida.
Uma colcha de retalhos....como dizia M.Quintana.
Perfeita ponte.
Beijossss
Boa semana