quarta-feira, março 28, 2007

Conversa

Se eu pudesse viver a nossa vida novamente,
na próxima cometeria, da mesma forma, todos os erros.
Mas da nossa vida não me ausentaria.
Erraria, na presença, no relacionamento, no encontro. Que o maior erro é não estar e com isso, impedir todos os outros erros de acontecerem.

Olhando de muito perto ou de muito longe a vida é mesmo o que é feito do tempo que a recheia.
Não são grandes conquistas, não são fortunas, não são feitos espetaculares.
São cotidianidades, como estar um na história do outro, como uma conversa no final do dia, como uma gargalhada dividida que ninguém mais entendeu. A mesmice de cada mágica diária que quase sempre reflete o seu encanto quando já é tarde demais para resgatá-la, se não vivida.

A vida é acontecer.

quinta-feira, março 22, 2007

Desvios ou Tempos Idos para Dentro do Agora


Pieces put together
sometimes
Will always be
just pieces.

sábado, março 17, 2007

Co-autoria


(...)
- amor é uma mágica, acho eu
mas, depende do cultivo também
da disponibilidade, principalmente

- sim...
- do olhar para o outro e pelo outro
- adorei esta última frase
- se alimenta desta generosidade
de adimiração, de tanta coisa

- olhar para o outro, pelo outro, através do outro
- sim
mas, comecei dizendo que é uma mágica porque
amar, sem correspondência já é difícil
amar e encontrar correspondência naquele que você ama então, é um milagre
encontrar tudo na mesma pessoa, mesmo ela sendo cheia de defeitos
e ainda por cima, esta pessoa pensar o mesmo de você, que encontrou tudo em você
na mesma intensidade e na mesma frequência,
só pode ser mágica.
É muito dificil mesmo
- sabe que você me deu idéia de como será minha próxima postagem?
vou falar sobre isto
e colocar você como co-autora.


(...)
- quando disse que você está na lista das pessoas favoritas, era verdade
- eu sei.


(diálogos em algum lugar de dezembro.)

quinta-feira, março 15, 2007

As Quatro Estações


Todas as estações têm o seu tempo sob o céu.
Verões e invernos fazem suas vítimas para socorrê-las em outonos e primaveras de cura.
E as estações nem sempre se vão quando passam.
Alguns raios de sol, flocos de neve, folhas secas e botões coloridos ficam até o final.
Por algumas janelas vamos ver sempre, ventos, céus, árvores, pétalas...vidas contínuas.
Verdades coincidentes, exclamações colidentes.
Semelhanças irreconciliáveis carregadas por incompatíveis aversões.
E tudo o que abraça, tudo o que embala, tudo o que faz aprender a viver.
As estações e nós, passando.

terça-feira, março 06, 2007

Teia

Eu vi a vida chegar de repente.

A vida, naquele sentido da linha no tempo à qual você pertence. Cada um na sua própria linha, infinita. A vida, como emissor, receptor, invólucro, veículo, mapa, estação.

Um varal no qual você pendura suas peças aleatoriamente, sucessivamente. Troca as peças que secam pelas recém-lavadas, perde prendedores, colore a corda como quiser, mancha blusas, rasga calças e continua nesta dança, sucessivamente. Desavisadamente. Descuidadamente.

E os varais se cruzam, todos. Pessoas que estão há muito tempo na sua vida - seja a que distância for - e pessoas que estão desde sempre, fazem sem que você saiba ou perceba, muitos desenhos no seu céu.

Vidas que influenciam vidas desatinadamente. Gente que chega pra ficar e gente que vai pra nunca mais. Gente que não sabe se foi. Gente que a gente não sabe se quer que vá, ou pra onde.

Perto é um lugar que não existe, ao contrário do que disse Richard Bach. Porque perto pode ser em qualquer lugar. Pode ser no coração de alguém que você ainda nem conheceu. Pode ser nas pessoas que você soube perto a vida toda sem imaginar que o perto era tão perto que se tornava dentro. O perto pode ser o mais distante também e te enganar. Fazer acreditar que estava ali, sendo miragem sem oásis.

E assim, sucedem-se as peças no varal. Paralelam-se e entrelaçam-se varais. E a vida, de repente. Embrião incubado no seu ser , para nascer a qualquer hora. Pó de universo incensado sobre as cabeças como punhais ou como coroas de flores.

Tempo rei.
Vida, louca vida. Contínua, anciã e de repente.
E você, de poros abertos para a existência.

domingo, março 04, 2007

Presentes - o melhor ser no tempo de um verbo


É simples o amor, parece.
Como respirar, como viver, como querer, como ser...
Os milagres, quando acontecem, deixam a surpreendente sensação de ser simples.
E em "simples" cabe o mundo.
Naturalmente em rotação e translação, cumprindo todas as suas rotas.
O amor é simples, como não é simples viver.
Amar está numa outra esfera diferente de viver.

(...) Eu disse que estava sem ânimo para galinhar, que não gosto muito de galinhar, que sou romântico, dedicado, que gosto de fazer supermercado pensando no que a outra gosta, que gosto de dar presentes, cozinhar, ficar em casa vendo tevê num sábado quente ou chuvoso e jogar gamão, tranca, buraco, xadrez, par ou ímpar, de ver a outra se vestir e escolher com ela as roupas, de ser aquele cara que julga se está bom ou não, se ela deveria estar de cabelo preso ou solto, de botas ou sandálias, de saia ou vestido, de cinto ou sem, com brincos de prata ou de ouro, se dá pra ver a marca da calcinha, que gosta de sentir o mesmo perfume na nuca todos os dias, que gosta de passar xampu no cabelo da mulher que ama, que gosta de passar os dedos na dobra do cotovelo, na barriga, de enfiar o dedo na boca, na orelha, de falar besteira durante o sexo, de beber vinho e transar na sala, de dar sorvete na boca e comer todo o pote de uma só vez, de ficar a noite toda no escuro, sem acender as luzes, ouvindo todas as músicas importantes e marcantes da vida, de alugar três DVDs e não assistir a nenhum, e como é bom lavar a louça a quatro mãos, com aquele detergente neutro e a água quente se misturando com o azeite da salada, de depois passar a espuma do detergente na cara do outro, de nos beijarmos e abraçarmos com a mão toda lambuzada, de ficarmos um no colo do outro numa piscina, de nos deitarmos na varanda em dia de calor, de passarmos protetor solar, hidratante, de um falsificar a assinatura do outro em boletos, de lermos juntos os resumos que saem nos guias dos jornais, de dividirmos uma pipoca, um chocolate, um biscoito Globo doce ou salgado, um coco na praia, uma água com gás, uma aspirina, uma maçã , uma perna de carneiro, um pudim de leite, uma vitamina C, uma rotina, uma cama, uma raiva, um encanto, uma piada, um pôr-do-sol, uma escova de dentes, uma caneta, um livro, uma angústia, uma dúvida, um sonho, um projeto, uma fofoca, um torpedo, um momento, uma vida. (...)

trecho da crônica "Separacão - 3" de Marcelo Rubens Paiva, na edição de 3 de março de 2007 do Estado de São Paulo