...digo "até sempre!"
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Namastê!
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sexta-feira, novembro 07, 2008
Eu não digo adeus...
Postado por Bianca Helena às 2:19 PM 5 comentários
segunda-feira, novembro 03, 2008
"Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia"
Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
Cem anos atrás, um grande americano, o qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não puderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de vocês vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de vocês vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhes deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Vocês são os veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixem cair no vale de desespero.
Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia, livres. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouvirei o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitirmos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos celebrar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espirito negro:
"Livre afinal, livre afinal!"
Postado por Bianca Helena às 10:21 PM 3 comentários
segunda-feira, outubro 27, 2008
Comunicado
Aprendi a chorar plenamente.
É importante este chôro, o chôro que se entrega sem medidas, e torna-se completo em si mesmo.
O chôro que nos lava de dentro para fora e esteriliza todos os nossos canais de comunicação com o mundo.
Não é um chôro único. Não são vários choros contidos numa única situação. É um chôro que nos vem aos poucos, em situações diversas, em dores diferentes e ferozes. Quase como um ciclo, sem data para terminar. O tempo age , reage, reluta, e n'algum destes dias, repentinamente, se percebe: aprendi a chorar.
É uma força divina. Saber-se capaz de sentir verdadeiramente o choro, aceitá-lo, compreendê-lo, reconhecer sua incontida beleza multifacetada. Aprender a perder. A cair. A pedir, e não receber.
Aprender a chorar plenamente, é como sentir as mãos vazias clamando pelo que nunca veio ou lamentando incessantemente o leite que se derramou sem avisar.
Sim, eu aprendi a chorar.
E este aprendizado tem uma única e fundamental importância: estar pronto, finalmente pronto, para aprender a sorrir plenamente. Receber. Encontrar. Partilhar. Multiplicar. Alcançar. Prosseguir. Desembrulhar.
São os braços e vida abertos, para receber as gargalhadas que encruaram na alma, se economizando para quando-deus-quiser.
Poderia chorar para sempre. Muito e muitas vezes, pois isto já não é o que importa. O chôro aceito - qualquer chôro, presente ou passado - limpa e purifica. É parte do todo, assim com a morte é parte da vida.
Aprender a sorrir vem depois. Vem, quando as inúteis perguntas sem respostas começam a cessar. Vem, quando todos os "nãos" e os vazios começam a ser recebidos sem o ranço da decepção.
O sorriso vem quando a viagem já mudou seu curso, tomando os rumos mais improváveis ao início. Quando coisas, pessoas e certezas já ficaram pelo caminho. Quando se passaram sóis duros e chuvas pesadas. Mesmo saudosas primaveras perfeitas já ficaram para trás.
É um depois. Um lugar onde há um espaço todo novo e livre, e um sorriso ainda não ouvido inspirando ares em seus pulmões, para desabrochar.
Postado por Bianca Helena às 8:23 PM 7 comentários
sexta-feira, outubro 17, 2008
Question marks
Alguém já disse que "o centro é onde nada é certo".
Se isto estiver perto da verdade, então posso dizer que passei boa parte da minha vida no seu centro.
A incerteza se tornou - ou sempre foi? - estranhamente familiar, mas, em tantos anos de relacionamento não nos tornamos nem um centímetro mais próximas. Ao menos, eu não me tornei. Ela porém, se aproximou grandemente. Ao ponto de, tantas vezes, ter feito da minha vida, a sua sala de estar.
Se há uma inveja verdadeira abrigada na minha alma, é a inveja de todas as pessoas que se sabem convictas da direção na qual devem (motivadas por desejo, e não, obrigação) guiar os seus objetivos de vida. E, tão simples quanto respirar, os perseguem.
Para mim, olhando de fora e de muito longe, é uma linha reta. Um caminho preciso, constante, crescente. Nada fácil, eu sei. Mas brindado de clareza tamanha, que até pode cegar. São aqueles abençoados que nasceram sabendo, por assim dizer, o que fariam deste seu tempo por aqui.
Eu, sempre que topo com alguém assim, fico louca de vontade de perguntar como. Como é que se faz para ser assim, para saber tanto assim de si mesmo, para ter tanta força e senso de direção assim.
Estas são pessoas carregadas de magia, tenho certeza. Avançam certeiras, e , ao seu comando impetuoso, portas, ou ao menos janelas, se abrem.
Vejo as possibilidades que estão embutidas em minhas imobilidades periódicas. É provável que eu esteja batendo nas portas erradas. É provável que não tenha chegado a "minha vez" ( e isto soa tão conformista que me dá vontade de gritar. Mas acontece.) É provável que eu, simplesmente, tenha feito uma escolha equivocada e, e algum momento, vá ter de admitir isso. É provável que eu tenha sido a pessoa errada, na hora errada. É provável que eu tenha tido a covardia de me eximir da responsabilidade nos caminhos que tomei, e eles estejam todos querendo que eu, agora, pague esta conta.
Sim, a vida que é mãe e não, madrasta, também cobra nossas inadimplências. Algumas vezes, cobra bastante caro. Noutras, estamos tão empobrecidos no espírito, que qualquer troco soa a fortuna.
Um outro Cara disse , certa vez: "Isto também passará". Suspeito que ele pensasse que não custava nada lembrar aos pobres mortais, primeiro, que não são tão pobres quanto se sintam em dado momento, e segundo, que a transitoriedade de todas as coisas é a única constante.
De minha parte, ouço todas estas entrelinhas. Porém, fico na dúvida - novamente - se elas me ouvem. Se me enxergam. E, se irão me responder.
Postado por Bianca Helena às 10:03 AM 7 comentários
segunda-feira, outubro 06, 2008
Cara Lavada
Eu sou mais bonito do que eu
Mas me esqueço
Quando eu sou feio, extrapolo
lindo quando eu sou bonito
Vem à lembrança que bom, é ser eu
nem sempre
mas vem.
A lembrança faz bem demais.
O esquecimento,
hora marcada, com chegada sem saída
para um tormento lento
Sonho ruim sem acordar.
Solitária a feiúra acompanhada.
Boniteza tem gosto sim
tem cheiro, tem cara
Voz, pós-guerra incondicional
ao fim de uma linha.
Ponto, parágrafo
e, para a surpresa de um feio
outra linha , no meio de um texto
que não cansa escrever, nem ler.
Postado por Bianca Helena às 11:48 AM 7 comentários
terça-feira, setembro 30, 2008
Ubuntu
Outro dia, eu aprendi o que significa ubuntu.
É uma palavra n'algum dialeto africano cuja tradução não é exata, nem breve como a sua origem. Para explicá-la , é preciso contar uma história.
No período pós-apartheid (que teve seu final em 1994), foi criada na África, a Comissão da Verdade e Reconciliação, iniciada por Nelson Mandela e seus líderes. Esta comissão constituía basicamente na anistia aos criminosos do Apartheid, desde que, estes assumissem a autoria dos crimes, podendo provar que foram cometidos sob ordens superiores, e desde que, suas vítimas (ou, em sua maioria, a família delas) tivessem a oportunidade de confrontá-los e contar suas histórias. Contar, diante da comissão e demais presentes, como eles mesmos, ou seus filhos, maridos, irmãos, foram torturados ou mortos, ou ambos, pelos respectivos algozes durante o sangrento período.
Uma das vítimas que ficou viva para contar sua própria história - Sr. Anderson, este sereno senhor de idade um pouco mais avançada - pediu, em audiência, ao policial agressor que lhe disse porquê invadiu sua casa, o agrediu, destruiu o local e as àrvores que ali estavam plantadas, e lhe provinham alimento. Pediu que lhe dissesse o porquê, para que pudesse perdoá-lo.
Ao final da audiência, Sr. Anderson, quando parabenizado por um jornalista norte-americano que fazia a cobertura do evento, por haver "mostrado a eles", cândidamente explicou que sim, havia mostrado a eles o que era ubuntu. "Fazemos parte um do outro. Quando um policial me fere, ele machuca a você também. Fere a todas as pessoas neste mundo, e fere também a ele mesmo. Nelson Mandela nos ensinou isso. "
Diante do olhar surpreso do jornalista, Sr. Anderson ainda continuou, pedindo a ele que contasse aos americanos esta verdade que havia aprendido na África do Sul, e oferecendo a ele seu próprio cajado como símbolo de que "não estamos sós neste mundo".
Se eu tivesse de resumir "ubuntu", ficaria com a primeira frase dita ao repórter: fazemos parte um do outro. Um fio invísivel, e inquebrável, nos liga a todos. O que dói em mim, dói em você também, e a minha felicidade, é também a sua.
Sabendo disto, o Universo frequentemente nos prega algumas perversas peças cósmicas. Enquanto alguém comemora o aniversário de uma pessoa amada, alguém chora a ida prematura de um filho , ainda bebê. Enquanto alguém vibra com uma esperada gravidez, cercada de sonhos, alguém quebra com a perda de um grande amor. Uns celebrando a renovação da vida, outros suportando suas mortes.
Entre um extremo e outro, ficam os demais que estão, neste momento, experimentando a infinitude de "pequenas" tragédias e "pequenos" êxtases que se pode experimentar. Dores indizíveis e plenitudes silenciosas que cercam todos os nossos dias.
É palpável como um corte feito a faca. Como chuva caindo em solo árido.
Uma única moeda, contínua, com dois lados opostos e complementares. Os dados são lançados e, nesta rodada, é hora de rir. Ou chorar.
Não que nossas preciosas vidas sejam obra de sorte ou azar. São obras de nós mesmos, mas são também uma congruência imponderável e incessante. Sempre oposta, sempre complementar, sempre una.
"Eu vi um menino correndo,
eu vi o tempo
brincando ao redor do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
e acho que nunca os tirei
o sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei."
[Força Estranha, de Caetano Veloso]
Postado por Bianca Helena às 3:00 PM 4 comentários
quinta-feira, setembro 25, 2008
Celebração
Do outro lado, alguém me atendeu
de um só fôlego, pedi:
saúde primeiro, para que
todo o mais possa ser desfrutado inteiro
Amar amando, e recebendo
tanto, até fazer coração em pingo
Contar gotas de espera para um reencontro
de cuidado e carinho abundante
É claro que pedi uma morada nas nuvens
sonhos, devaneios, incoerências de toda cor
fontes de pétalas cadentes , perfumadas.
É preciso combustível para continuar.
Continuei, e pedi a benção do desprendimento
[de si mesmo]
Explico: à qualquer amarra castradora
que ouse limitar seus pés, ou embutir suas asas
um sonoro e incontestável NÃO!
Companhia para a alma, ao invés da ocasião
seres de beleza e luz
E, se houver solidão, acolhida
todos somos um.
Era importante pedir um horizonte.
Virgem, mas cheio de sussurros
com as vozes de toda a maravilha
que mora logo ali, ao virar da esquina.
Sei que nada seria aproveitado
sem ser compartilhado
Então, sem mais, pedi igual
para todos que habitam seu coração
Para cada lágrima de pura emoção
quilômetros de riso livre
nunca de desespero, mas de compreensão
e felicidade, feliz idade
[hoje, e em todos os sempres]
Postado por Bianca Helena às 10:24 PM 6 comentários
terça-feira, setembro 16, 2008
Vinte e quatro atos para o Amor
como outro qualquer
amanheceu, e eu
por um triz acordei
Senti o frio me transpassar
o peito
lá onde estava o coração
Agora, quase jaz.
Contraído
Aturdido
Diminuto
Despedaçado
Se de fato morresse
bálsamo dos deuses!
O fel adoçaria
Secaria o sumo da dor
O corpo, sobrevivente anônimo
cortado e caído
n'alguma trincheira
de vinagre e sal
Viveria?
Acaso perguntassem por mim
surgiria apenas o silêncio
Nada há para dizer
de quem desapareceu
Tantas palavras e curativos
de boa intenção
foram desperdiçados em mim
É assim, a pequenez
"- Não há mal que sempre dure
nem bem que nunca se acabe"
Qualquer alma em falência
já ouviu alguém dizer
E foi num dia desses
como outro qualquer
Que eu esperava pelo sol
quando, por fim, ele nasceu.
O orvalho me roçava o rosto
e me deixava lamber
frescor e talvezes
Quem crê em tantos deuses?
Rumo ao meu norte
límpido e forte coração
Ave bravia de cicatrizes conquistadas
pulsou num sorriso
E veio um respiro.
Ar
Som
Céu
Lar
Já não procurava
e de não procurar, me encontrava
Esperava, sem muito esperar
Desejava, sem identificar.
A surpresa, reservada ao final
chegou-se antes, transversal
Movimento misterioso
bem-vindo sem convite
Desembrulhado o presente
aura de eclipse total
Modelos de sol e lua
Cai, afinal, a armadura
Mel caído em noite fria
Abraço o abraço, berço e laço
Arremesso novo em ascensão
Sem queda, livre conjunção
E veio um suspiro.
E sei, simplesmente
que nesta era
se faz suficiente
ser quem eu sou.
Minha alma navega
onde seus olhos marejam
Emoções-confissões, ondas
quebrando sobre velhas divisões
De repente, é simples
uma janela aberta para ser dois
degustação a fino paladar
entrelaçando-nos.
Respiração boca-a-boca
múltiplas vezes ao dia
Salvação da mediocridade
estéril defesa vazia
Bendito fruto de céu de fevereiro
Amem, amem, amem.
Postado por Bianca Helena às 10:31 PM 13 comentários
sexta-feira, setembro 12, 2008
Poeminha para uma prosa
Abracei o que desconhecia,
com uma das mãos
atada à familiar segurança
Olhos se desprendem devagar
hão de viajar outras paragens
Saem lentamente, voltam de repente
Assuntam e pescam no ar
A poluição irrita os novos olhares
a incerteza lacrimeja
Mas há o respiro,
há a paz de não saber
Quando do clarear do dia
pernas inquietas sacolejam suposições
Andarilha indo, voltando
nascente indefectivelmente cativa
Os anjos todos soltos nas esquinas
bocas que se abrem para dizer o bem
bocas que se abrem para fazer o mal
anjos de asas, ou de chifres
Ouvi o mundo trocar seu lugar
o mudo, o cego, o surdo pedido
Espetáculo raro de provar
Sequer a mim confirmar.
Postado por Bianca Helena às 1:38 PM 4 comentários
quarta-feira, setembro 03, 2008
Devo farmi le ossa
Por que eu preciso da arte? Esta é uma pergunta à qual me submeto algumas vezes, sem sucesso real.
O que seria deste mundo, se, junto a cesta básica de produtos alimentícios, fossem distribuídos também um (bom) disco, um (bom) livro, uma (boa) ilustração?
É possível que, na impossibilidade das repostas – da maneira como as conhecemos – estejam as respostas, da maneira como as ansiamos, e neste instante, nos debatemos em confusão, já que a mente jamais desiste de encontrar o que procura, ainda que isto, por tantas vezes, não exista. Não da forma que a mente espera. A mente nos cansa, com a prepotência insistente que não a deixa contentar-se com o seu valor real, e impõe a si mesma que seja tudo. É preciso cansar a mente, tirando dela o poder de oferecer constantemente respostas prontas e lógicas. A mente desconhece o que não pode ser esmiuçado pela sua razão. E o que me é lógico, é que ninguém funciona de forma tão óbvia assim. Ninguém funciona, mesmo que um contingente considerável de pessoas ainda não saiba disto.
É preferível sentar-se confortavelmente à sombra das questões já “resolvidas”, do que lançar-se numa expedição solitária em busca do caminho que ainda não tenha sido asfaltado.
Quando surge uma pergunta, imediatamente, vai a mente buscar nos seus arquivos um registro sobre aquele assunto. Um registro, portanto, algo que já tenha ocorrido antes. (“já tenha ocorrido antes” é redundância? Ando muito preocupada em não agredir a língua portuguesa, tão difícil para mim). Parece clara a conclusão de que, feito isto, estaremos sempre repetindo fórmulas e recorrendo apenas ao que já foi visto, pensado, sentido, descoberto.
A capacidade de encontrar respostas e infinitos novos porquês que reside do lado de fora da nossa mente, é atordoante. Há caminhos que sequer foram sonhados, aguardando, já impacientes, por serem encontrados. Nestes caminhos mora a arte.
A arte faz parte daquele grupo de necessidades básicas e absolutas que a nossa mente ainda não conseguiu transformar em explicação. E este é o nosso padrão, nosso recurso imediato quando falta o chão. É desta forma que ficamos novamente em pé. Oferecendo alguma justificativa perfeitamente sensata para a interrogação que nos carrega tantas vezes, durante o curso de um único dia.
Com nosso consentimento, a mente se fez forte. Mais forte do que deveria, especialmente no pensamento ocidental. Enraizou-se em nossas escolhas e em nossa maneira de estar na vida, e sempre que preciso, é a ela que voltamos, é à mente que pedimos descanso quando cansados de procurar.
A literatura talvez seja a arte que mais se aproxima de juntar as respostas com as quais já interagimos, à inédita trilha de terra batida e mata fechada. Talvez isto faça da literatura, a mais deliciosa forma de sabedoria.
No meu reduto particular de busca da sabedoria, está morando o delicioso e autobiográfico “Comer, Rezar, Amar”, best-seller da autora americana Elizabeth Gilbert, ou apenas Liz, para aqueles que como eu, já fizeram da escritora uma pessoa próxima e querida.
Ao invés de contar do que se trata o livro, informação que pode ser encontrada em qualquer site de livraria, vou dizer apenas que, o que me conquistou irremediavelmente a respeito dele, foi a generosidade da autora. É a forma ultra-pessoal e desprendida com a qual Liz conseguiu falar com seus leitores (somada ao bom-humor e inteligência que lhe são naturais) que fez com que este livro se tornasse um amigo.
Aqui, uma das incontáveis passagens que eu amei:
Sinto que o destino também é um relacionamento - uma interação entre a graça divina e o esforço pessoal direcionado. Sobre metade dele você não tem o menor controle; a outra metade está completamente nas suas mãos, e as suas ações terão consequências perceptíveis. O homem não é nem uma marionete dos deuses, nem tampouco é senhor do seu próprio destino; ele é um pouco de ambos. Galopamos pela vida como artistas de circo, equilibrados em dois cavalos que correm lado a lado a toda velocidade - com um pé sobre o cavalo chamado "destino" e o outro sobre o cavalo chamado "livre-arbítrio". E a pergunta que você precisa fazer todos os dias é: qual dos cavalos é qual? Com qual cavalo devo parar de me preocupar, porque ele não está sob o meu controle, e qual deles preciso guiar com esforço concentrado?
Há tanta coisa no meu destino que não posso controlar, mas outras coisas estão sim, sob minha jurisdição. Existem determinados bilhetes de loteria que posso comprar, aumentando, assim, minhas chances de encontrar satisfação. Posso decidir como gasto o meu tempo, com quem interajo, com quem compartilho meu corpo, minha vida, meu dinheiro e minha energia. Posso decidir o que como, o que leio e o que estudo. Posso escolher como vou encarar as circunstâncias desafortunadas da minha vida - se as verei como maldições ou como oportunidades (e, quando não tiver forças para adotar o ponto de vista mais otimista , porque estou sentindo pena demais de mim mesma, posso decidir continuar tentando mudar minha atitude). Posso escolher minhas palavras e o tom de voz com que falo com os outros. E, acima de tudo, posso escolher meus pensamentos.
Esse último conceito é uma idéia radicalmente nova para mim. Richard do Texas chamou minha atenção a seu respeito recentemente, quando eu estava reclamando da minha incapacidade de me livrar dos pensamentos obssessivos. Ele disse:
- Você precisa aprender a escolher seus pensamentos do mesmo jeito que escolhe as roupas que vai usar a cada dia . Isso é uma capacidade que você pode aprimorar. Se você quiser tanto assim controlar as coisas da sua vida, trabalhe com a mente. Ela é a única coisa que você deveria estar tentando controlar. Largue todo o resto, menos isso. Porque, se você não conseguir dominar o seu pensamento, vai ter muitos problemas para sempre.
À primeira vista, isso parece uma tarefa quase impossível. Controlar seus pensamentos? Em vez de o contrário? Mas imaginem: e se fosse possível? Não se trata de repressão nem de negação. A repressão e a negação inventam jogos complicados para fingir que os pensamentos e sentimentos negativos não estão acontecendo. Mas Richard está falando de reconhecer a existências dos pensamentos negativos, entender de onde vieram e porque apareceram, e então - com grande capacidade de perdoar e com grande coragem - mandá-los embora. Essa é a única prática que se encaixa feito uma luva em qualquer trabalho psicológico que você possa fazer durante uma terapia. Você pode usar o consultório do analista para entender primeiro porque tem esses pensamentos destrutivos; e pode usar exercícios espirituais para superá-los. Deixá-los ir embora é um sacrifício, claro. É uma perda de antigos hábitos, de velhas implicâncias reconfortantes e de padrões conhecidos. É claro que tudo isso requer prática e esforço. Não é um ensinamento que você possa escutar uma vez e esperar dominar imediatamente. É uma vigilância constante, e eu quero isso. Preciso disso para ficar forte. Devo farmi le ossa, é o que dizem em italiano. "Preciso fazer meus ossos".
Assim, comecei a me forçar prestar atenção em meus pensamentos o dia inteiro, e a monitorá-los. Repito essa decisão cerca de setecentas vezes por dia: "Não vou mais abrigar pensamentos que não forem saudáveis". Sempre que um pensamento desprezível surge, repito a decisão. Não vou mais abrigar pensamentos que não forem saudáveis. Na primeira vez em que me ouvi dizer isso, meu ouvido interior se espantou com a palavra "abrigar" e com seu substantivo correspondente, "abrigo". Um abrigo, é claro, é um local de refúgio, um porto seguro. Visualizei o porto seguro da minha mente - um pouco surrado talvez, um pouco maltratado pelo tempo, mas bem situado e com boa profundidade. O porto seguro da minha mente é uma baía aberta, o único acesso à ilha do meu Eu (uma ilha jovem e vulcânica, sim, mas fértil e promissora). Essa ilha já passou por algumas guerras, é verdade, mas agora esta´comprometida com a paz, sob a batuta de um novo líder (eu) que instaurou novas políticas para proteger o lugar. E agora - que a boa-nova seja espalhada pelos sete mares - há nos autos leis muito, mas muito mais rígidas quanto a quem pode adentrar esse porto seguro.
Você não pode mais vir aqui com seus pensamentos duros e abusivos, com seus navios de pensamentos assolados pela peste, com seus navios negreiros de pensamentos - todos eles serão rechaçados. Da mesma forma, quaisquer pensamentos cheios de exilados zangados ou famintos, de descontentes e de panfleteiros, de amotinados e de assassinos violentos, de prostitutas desesperadas, de cafetões e de passageiros clandestinos - vocês também não podem mais vir aqui. Pensamentos canibais, por motivos óbvios, não serão mais recebidos. Até mesmo os missionários serão cuidadosamente revistados para avaliar sua sinceridade.
Este é um porto pacífico , entrada para uma ilha bonita e orgulhosa que está apenas começando a cultivar a tranquilidade. Se vocês respeitarem essas novas leis, meus caros pensamentos, então serão bem-vindos na minha mente - senão, eu os devolverei novamente ao mar de onde vieram.
Essa é a minha missão, e ela nunca vai terminar.
Postado por Bianca Helena às 3:48 PM 5 comentários
sexta-feira, agosto 01, 2008
A Menina dos Meus Olhos
Não são tantos assim os lugares que têm este mel de grudar gente.
Sem procurar muito, encontra-se uma quantidade expressiva de pessoas que não nasceram em Piracicaba e só fazem elogiar este pedaço privilegiado de interior paulista. Tem quem veio para cá ainda criança, e ficou. Tem quem veio adulto, e ficou. Tem quem veio a passeio, e voltou (muitas e muitas vezes). Tem quem veio a trabalho, e quis conhecer o outro lado. Tem quem já morou aqui, e partiu (mas quer voltar).
Gente para todas as opiniões. E como unanimidade não existe, vez ou outra, encontra-se também alguém para dizer o contrário. Sempre tem um doido.
Um dos maiores prazeres para uma piracicabana convicta como eu, é andar pelas ruas desta cidade quando em momentos de lazer, e encontrá-las cheias de movimento e vida, notando que, nos estacionamentos abarrotados, muitos dos carros não são daqui. O que é bom, a gente tem que dividir.
Se astrologia valer também para as cidades, Piracicaba, sob o signo de Leão, incorporou muito bem algumas de suas características mais marcantes. Extrovertida, cheia de energia, generosa, com incrível facilidade para fazer novos amigos. Nunca passa despercebida.
Piracicaba tem o seu sol particular, e isto se reflete muito bem naqueles que se aquecem no seu calor. É grande o número de pessoas por aí que não tem o privilégio de amar o lugar onde nasceu e, estando nele, sentir-se verdadeiramente em casa.
Os grandes amores movem. Destemidamente, desligam os sensores de cuidado e nutrem a vontade maior de se declarar. E quem ama, sempre cuida, sabendo que uma cidade é a extensão imediata do seu próprio lar e não poderia merecer menos.
No mínimo, cuidar de suas pessoas, dedicando a elas o mesmo respeito com o qual se espera ser tratado. No mínimo, cuidar do seu meio-ambiente, onde se destacam as águas que ainda bombeiam vida e beleza aos seus pulmões. No mínimo, escolher com apreço os seus líderes para que sejam a voz que um lar merece ouvir.
O amor rejuvenesce e esta cidade sabe disso. 241 anos, com corpinho de, no máximo, 178.
Amar Piracicaba, é fácil como encontrar um conterrâneo com quem conversar e doce, como provar suas delícias de cana e milho. Tendo olhos para ver e ouvidos para ouvir, a paisagem vai mostrar o caminho e a brisa de domingo vai assobiar uma modinha de encantos.
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quarta-feira, julho 30, 2008
Absurderia
Nas minhas próprias noções do que é absurdo, eu dificilmente noto o elemento "e se". É muito mais fácil percebê-lo observando o que é externo.
O elemento "e se" é muito simples. Consiste em questionar o absurdo, absolutamente relativo.
É claro que ninguém é particularmente fã de se questionar. Questionar o vizinho é muito mais agradável e bem mais cômodo. Por alguma razão absurda (será?) a gente se sente menos gente quando balançado em nossos valores, há muito cultivados. Pautamos o que somos nas idéias que aprendemos, que descobrimos, que adotamos, e sentimos que sem elas, muito pouco resta. Como definir quem sou sem me apoiar nas crenças que tenho? E definir é preciso, sempre.
Maquinazinha complexa, esta nossa.
Nos questionar, muitas vezes é como "perder terreno", ou mesmo perder "poder", força, direção. E manter a direção é sempre uma tentativa frustrada, e é esta a melhor opção, considerando a alternativa de nem ao menos perceber o quão infértil é este terreno de alimentar sempre os mesmos nortes.
Perder o chão momentâneamente versus vislumbrar um lampejo de inédito, de maior, de incômodo eternamente. Eis a questão.
Einstein um dia disse que "a mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original". Imagine a ginástica deste "músculo", não tão involuntário quanto o coração, para se alongar e receber a idéia que chegou. Creio que seja seguro dar por certo que ainda se contrairá muito, antes de, finalmente, ceder. Se ceder.
Natural ser simpático a este apego e entender que o desconhecido causa um medo danado. Foram anos na lapidação dos valores de uma pessoa que se lutou tanto para construir, e sem eles, o que sobra? Hum...todo o mais, talvez? Todas as outras idéias ainda não pensadas, ainda não descobertas, ainda não aceitas, ainda não percebidas? E com elas, um crescimento incomensurável. O derradeiro alongamento, sem final, sem pecado e sem prejuízo. Sim, alongar dói. Neste tipo de alongamento ainda cabem, para dificultar muito mais, todos os motivos pelos quais algo se torna absurdo aos nossos olhos. O medo, a sensação de enfraquecimento, os dogmas, as crenças, a quase imexível fidelidade à pessoa que reconhecemos como eu. Quem é que nunca disse "eu sou assim" ? E aí, a gente tranca a porta de saída de emergência sem perceber.
Estes "absurdos" todos que nos sacodem até os ossos... Ou, não. Talvez apenas nos dêem argumento para fortalecer um pouco mais o que já "sabíamos". É uma escolha quase inconsciente que está sempre sendo feita.
E, se não me falha, foi Einstein também que um dia disse que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. "Triste época " ? Prefiro apostar em "tempo de despertar".
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sexta-feira, julho 18, 2008
Ser, Estar e Querer
Sem que eu entendesse porquê, minha personalidade de alguma forma sempre se opôs a isso, estivesse eu vivendo desta forma ou não.
Observando esta questão um pouco mais de perto, notei que mesmo sem a correnteza de obrigações, a disposição da mente das pessoas curiosamente permanece buscando esta forma de arranjo do seu tempo.
É preciso sempre ter um compromisso, mesmo que seja dentro de sua própria casa. É preciso, ao realizar a tarefa corrente, saber o que virá a seguir. Absolutamente nada contra os compromissos, ou o seu ritmo, porém, esta se torna uma excelente forma de colocar a mente sempre no futuro ou no passado. Em quantos de nossos momentos diários estamos, de fato, atentos para vivê-los?
Note o quanto é raro nos encontrarmos totalmente absortos no que quer que esteja sendo realizado NESTE EXATO MOMENTO. Eu mesma, enquanto escrevo este parágrafo, me questiono sobre a continuidade do texto.
Alguém poderá dizer que isto significa planejar ou mesmo organizar. Bem, o planejamento e a organização são absolutamente fundamentais para a manutenção e conclusão de muitos projetos e etapas na vida, sem falar na imensa carga de responsabilidade que envolve tantas situações pelas quais passamos diariamente e no ritmo ininterruptamente dinâmico que é necessário para fazê-lo - sobretudo no trabalho. Mas isto não equivale a dizer que esse deva ser o único estado mental de nossas vidas. Tampouco significa que, para lidar com a questão, apenas dedicaremos então algumas horas pré-determinadas na semana exclusivamente para relaxar, seja este relaxamento numa atividade moldada para proprocioná-lo - meditação, natação, sono - ou em alguns parcos momentos de lazer.
Da maneira que vejo, relaxamento não é igual a desligamento, ou lentidão, ou ócio improdutivo. Relaxar, significa estar. Estar na situação à qual nos propusemos em dado momento.
Sim, o equilíbrio entre planejar e relaxar é extremamente difícil e muitas vezes, até indesejado. Assim, corremos tanto e tão rapidamente em direção a algo que sequer temos certeza do que é. Um lugar ao sol? Conforto financeiro? Uma lugar mais próximo do sol? Casa, família, convívio social, viagem? Sim! Com certeza estes instrumentos todos podem nos levar a experimentar muitos momentos de profunda felicidade. Li em algum lugar que "dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris" e concordo totalmente. O conforto proporcionado pelo dinheiro pode ser veículo de vivências incríveis, se bem utilizado. E isto também não equivale a dizer que o dinheiro por si, seria a melhor escolha como grande meta da vida de alguém. De que serve o dinheiro, sem a presença de espírito para verdadeiramente, desfrutá-lo?
Não sou zen, nem de nenhuma outra corrente que pregue o esvaziar da mente, o relaxamento, a conexão profunda com o Eu superior, embora acredite que esta seja uma maneira especial e evoluída de viver, e almeje chegar perto disto em algum momento. Por outro lado, acredito que o entusiasmo aceso e vibrante são ferramentas poderosas para sentir-se bem sucedido e, sobretudo FELIZ, ao final de cada dia. Aí está a "pegadinha". Entusiasmo e vibração, de forma alguma excluem o respirar profundo e entregue que alimenta os momentos onde, de fato, estamos presentes. Sem amarras ao passado, sem desespero pelo futuro. Apenas se propondo a mergulhar de cabeça, corpo e alma naquele instante. Naquela conversa ao telefone, naquele trajeto no meio do trânsito, naquela refeição engolida às pressas sem degustar o sabor e prazer únicos que oferece, naquela música que soou repentina trazendo uma lembrança deliciosa, naquela caminhada despretensiosa num lugar interessantíssimo que sequer notamos.
Há uma energia incrivelmente ativa e poderosa em estar presente. Há também um esforço e dedicação que lhe conduz. Ninguém nasceu sabendo como não se preocupar com o que acabou de passar , ou com o que virá a seguir. Como em incontáveis outros desafios, é preciso nos educar.
Impossível falar em estar no momento em que se vive, sem falar em se perceber, se conhecer, se gostar. Quanto maior o tempo dedicado a desvendar esta pessoa cheia de nuances e particularidades que habita dentro de cada um, muito maiores as chances de fazer escolhas acertadas e felizes sobre como utilizar o seu bem mais precioso: seu tempo. Este sim, corre alucinadamente e, para complicar mais um tanto, não volta jamais, sempre nos acenando com a mensagem de que deve verdadeiramente ser sorvido até a última gota de suas possibilidades.
Perguntar-se regularmente "o que eu realmente quero fazer" não vai eliminar as obrigatoriedades da vida moderna, mas vai nos colocar expressivamente mais próximos das vontades que alimentamos e calamos, sem conseguir reservar para elas um horário na agenda.
Foi-se mais da metade deste ano de 2008 que, parecia, começava ontem. Quanto dele foi vivido na construção e realização dos momentos onde o desejo urgia por estar?
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terça-feira, julho 15, 2008
Literal
Provar da fruta dividida entre a esperança da semente e o salto fatal.
Gemendo alto não se ouvem os gritos silenciosos de quem já morreu
Ao pé da letra da canção me ouço desprendendo do que já foi meu.
Caras, casos e caretas crendo no absurdo e retomando o caos
Dores nunca divididas, por quem sangra vertem, temperando o Mal.
Anjo Lúcido soando em trombeta virgem, abre vendavais
Bem com Bem me paga pouco, salga a língua seca que clama por mais.
Vivo a vida que rareia, clara lua cheia estrelando a visão
Sonho o sonho que prateia este amargo intento por distração.
Puro é o mel, sem inocência me banho na bruma do que chegará
Li-me a vida, e espero doce conquistado em calda para salivar.
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domingo, julho 06, 2008
No Tempo de um Suspiro
Lá estava ele, afinal.
"Afinal" sugere "de repente". Nada menos de repente do que qualquer coisa a respeito daquele encontro.
Costurado dia após dia. Esperado sonho após sonho. Acalentado dúvida após dúvida.
Ao encontrá-lo ela ainda não sabia que ele seria ele, aquele.
Olharam-se com a interrogação zombeteira impressa no espaço que ainda os separava.
Foi quase um encontro casual. Passaria desapercebido a olhos menos atentos ou a corações menos despertos.
Havia algo, porém. Algo de silêncio e som, mesmo que nada se ouvisse.
As batidas do coração denunciavam. Os olhos engoliam piscadas. Mas nem uma palavra.
Talvez houvesse algo sendo dito em outras estâncias. Alguma outra parte dos seus seres talvez ouvisse, mas, como traduzir?
Como extrair de uma conversa em outra frequência o idioma que estes ouvidos racionais entenderiam?
Deixaram estar, apenas.
Permitiram-se encontrar e desenrolar histórias de ontem e amanhã.
Ela sentia-se feliz sem saber de qual parte dos seus sonhos se manifestava a recém-reencontrada felicidade.
Não entendia, ao certo, o que susurravam os olhos dele. Sorririam?
Trazendo ar do mais profundo de seus pulmões, ela observava, junto dele, flores meninas que brincavam coloridas e convencia-se: "Sim".
***
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segunda-feira, junho 23, 2008
Eu era feliz, e sabia!
O acontecimento corriqueiro de hoje é a saudade de amanhã. Sim, porquê as épocas de nossas vidas se sucedem e, frequentemente, ao chegar a nova, vai-se todo o enredo da época anterior. Silenciosamente chega a mudança e com ela, a troca de pessoas, sentimentos, desejos, lugares e forças que movem o nosso íntimo.
É um processo sutil que traz consigo grande poder de transformação. Deixa a sensação enganadora de que tudo aconteceu de repente. Não. As novas realidades se constroem com um passinho depois do outro. Um dia depois do outro. Um pensamento depois do outro.
Acrescente ou tire uma única pessoa do seu convívio direto e perceba como se rearranjam as suas prioridades, se renovam os seus interesses, se diluem as suas certezas. A estrutura daquela felicidade anterior dará espaço para uma nova felicidade. Novos rumos, novas decisões, novos desapegos, novas conquistas.
A noção que construímos de felicidade acontece conforme as pessoas que nos acompanham de perto. Redundância? Talvez, mas há nela uma verdade. Muitos dos que estão perto não são companhia e a noção de felicidade se alimenta apenas daqueles que estão muito próximos. Tão próximos que estão, na verdade, dentro.
Nenhuma das felicidades ficaria presente ou faria sentido se não reconhecêssemos o seu valor. A melhor reverência que se pode fazer a uma época que marcou nossa vida é aplaudí-la durante o seu transcorrer, sabendo que entre dores e delícias, é preciosa e incomparável a seu modo.
E há, sempre, "tempo para tudo debaixo do céu". Há o tempo onde a família lhe sustenta e guia através dos dias. Há o tempo onde a amizade lhe ensina que sua família se estende aos irmãos que nos é permitido escolher. Há o tempo onde sua alma é a sua grande companhia e deste vôo solo, tiram-se alicerces eternos. Há o tempo onde o amor lhe envolve na certeza de que sua forma de caminhar transformou-se para sempre em doce parceria. Há o tempo onde os tempos acontecem juntos ou apenas, um por vez.
E há as pessoas atemporais. O coração nutre uma misteriosa devoção por aqueles que um dia amou e teve como companhia. A companhia, frequentemente acaba. O amor por ela, se transforma em inequívoco respeito temperado na saudade de quem era feliz, e sabia.
Quando a próxima felicidade chega tem o seu próprio sabor. Novos passos, novos abraços, novas rotinas. O coração sente a descoberta e modela-se aos seus formatos . Assim, recicla-se a vida e cada uma de suas formas de ser feliz.
Sim, as felicidades não se repetem. Nos surpreendem lentamente. Ainda que se reconstruísse uma época, nós mesmos já seríamos outros. A cada sentir, reinventamos nossa forma de sentir. A cada querer, reinventamos nossa forma de querer. A cada visão, reinventamos nossa forma de enxergar.
Todas as épocas passarão e, contraditoriamente, deixarão na alma as sementes da continuidade, e no peito, o sabor dos frutos deste grande atemporal, o amor.
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segunda-feira, junho 16, 2008
À Ponta da Espada
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segunda-feira, junho 09, 2008
Amoral
Me pergunto qual será o parâmetro da "moral" que rege os limites entre o aceitável e o inaceitável em cada país.
Corrupção "pornográfica", pode.
Assassinato "pornográfico", incluindo filhos, pais, avós, pode.
Miséria, pode.
Falta dos níveis mínimos de educação, pode.
Falta dos níveis mínimos de respeito, pode.
Preconceito, escancarado ou velado, pode.
Desigualdade social "pornográfica", pode.
Toda a sorte de meios ilícitos de "chegar lá", pode.
Ataques incessantes ao meio ambiente, pode.
Infelicidade acomodada, pode.
Atrocidades "pornográficas", pode.
Enfim, o que não falta é criatividade para escolher uma forma de atentar contra o próximo (e contra si próprio) ou se colocar acima dele - e, à sua custa - de alguma forma.
Enquanto isso, são eleitos e fomentados determinados tabus, quase como forma de desviar a atenção do que importa realmente. E observo que os tabus sempre inibem a liberdade e o auto-conhecimento de alguma forma. Então, se os falso moralistas aplicam o que pregam, estão fazendo nada mais do que atentar contra as suas próprias possibilidades de plenitude e, em muitos casos, de felicidade.
Um dos tabus de estimação, é o sexo. Por sexo, entende-se neste caso, tudo o que possa trazer conotação sexual.
Incitou a imaginação? Inaceitável.
Liberou a libido? Inaceitável.
Acendeu a ousadia? Inaceitável.
Tirou do convencional? Super, ultra, mega, max inaceitável.
Alimentou a individualidade liberta? Impensável.
Neste rastro de "moralidade" sobra para quem ficar na reta. A bola da vez, ao menos na mídia brasileira, é a campanha para o Dia dos Namorados da C&A criada pela agência DM9DDB, cujo tema é "Papai e mamãe, não!".
Na versão para televisão, assistia-se (até o último dia 6, quando foi retirada do ar) a versões diferentes para o comercial. Uma psicóloga, uma astróloga, uma enfermeira, citavam, com referências às suas respectivas profissões, formas de melhorar o Dia dos Namorados, no aspecto sexual. Tudo com muito bom-humor, criatividade, uma pitada de malícia e sim, bom-gosto. Não vi na criação, absolutamente nada de grosseiro, ofensivo ou imoral e, no entando, foi considerada pelo órgão regulamentador como contendo forte mensagem erótica. Seja lá o que for que isto signifique, foi o suficiente para que se "recomendasse" sua suspensão definitiva.
Erotismo? Impensável.
É favor não confundir erotismo com pornografia, apelação, mau-gosto, degradação e demais ocorrências inaceitáveis que podem misturar-se ao gênero.
É preocupante também, esta silenciosa manifestação da censura que vem, aos poucos, se reinstalando no Brasil e deixa a pensar qual será o desfecho de tão lamentável tendência no curso deste, pasme, Terceiro Milênio.
(Colaboração: Vanderlei Martinelli)
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Assista (enquanto o YouTube permitir):
Psicóloga
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segunda-feira, maio 26, 2008
Para além das horas
Seguramos um do outro, as mãos. Sustentamos um do outro, os sonhos.
Não censuramos vontades. Não desprezamos interrogações.
De olhos vendados, saltamos o salto, beijamos o beijo, quisemos o querer, choramos a lágrima, unimos o destino.
Refletida no lago estava a imagem do mar. O mar que nos queria banhar, purificar, renovar.
Ao pousar a mão em seu peito, as batidas vieram a mim como o recuo da onda que alcançará a praia.
Uma semente temporã brotou antes da primavera para dizer que a flor menina se faria fruto.
O mel do seu sabor adoçaria meus lábios e ares.
A dança se faria som, céu, sim.
Dois corpos chicoteando palavras e silêncios.
Aportamos no cais ao final de uma tarde colorida. O céu, em brasa por nossas vidas.
À chegada do novo dia, navegamos, fluindo entre mergulhos e lânguidas braçadas que nos afastavam da costa.
Nascemos.
Na busca pelo caminho que haveríamos de trilhar, socorremos dores e gestos quebrados com o tempo.
Pousou a ave aprendiz. Abraçou com as asas, o encontro.
Nos verdes campos fez ninhos de coragem.
Parceira da brisa que lhe doou movimento ao vôo.
Viajando por novas cidades, escolhemos a morada onde nossa comunhão arquitetou seu habitar.
Passam as cidades. Passam os países. Passam povos indecifrados.
Ressoam alto os novos idiomas que aprenderemos.
Ensinamos outras canções para que as celebrações façam aplausos como se fosse filhos.
Encantamos nossas retinas, cansadas do mundo repreendedor.
Um para o outro, encandescemos em desafio acalentador.
Poeticamente, como o desejo de cruzar a ponte sobre os girassóis que ascendem o caminho.
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terça-feira, maio 20, 2008
Os Alquimistas
Constantemente naquele misto de expectativa/intuição de que algo muito maior e melhor estaria por vir.
Não está destinado a todos descobrir a cura da Aids, fazer um excepcional trabalho humanitário através da Organização das Nações Unidas, produzir incomparáveis obras de arte ou mesmo motivar milhares de pessoas a buscar maior qualidade em suas vidas. Mas ainda acredito nos grandes feitos predestinados, para todos.
Quem sabe onde as nossas escolhas irão nos levar e de onde irão nos trazer? Creio que os grandes realizadores, os que deixam suas vidas marcadas na História, muito possivelmente estavam apenas sendo eles mesmos em seu trabalho e em seu dia-a-dia, quando a semente de algo que vinha sendo cultivado brotou muito expressivamente e ficou. E o que identifica um "grande feito" é o seu alcance. Aquele que vai positivamente em direção a muitas outras vidas e, nelas, opera algo de bom.
Se tornou perceptível para mim, claramente, que é muito possível (e provável) também que todas as pessoas, de alguma forma, realizem os seus grandes feitos particulares. Aparentemente, em menor escala. O alcance talvez seja outro. Mas o lema "pense globalmente, aja localmente", eternizado pelo Green Peace aponta a viabilidade deste caminho tão válido. De verdade, é impossível medir o alcance de uma atitude, de uma palavra, de um gesto. E estes sempre ecoam. Para além de nós, de maneiras que talvez nós nem venhamos a saber.
Se tornou perceptível também que há tipos e tipos de feitos. Feitos para os quais não seja preciso sequer se deslocar. Em casa, entre amigos, no trabalho. Uma palavra na hora certa que é capaz dar novo ânimo à vida de alguém. Um exemplo que vem como lição para um amigo ou colega ao lado. Um abraço sincero no momento exato, que deixa claro que o outro não estará sozinho.
Momentos cruciais que acontecem todo dia. Encruzilhadas cotidianas que definem se escolheremos o caminho da esquerda, o caminho da direita, o retorno, o não-caminhar. E com estas definições se faz uma vida.
Com estes laços, se amarra a maior de todas as conquistas, a conquista de ter feito diferença, em algum momento, para alguém.
É um tipo de poder individual responsável por muitas das escolhas acertadas do nosso semelhante. Um passo simples para uma alquimia coletiva gerando pessoas maiores.
Postado por Bianca Helena às 3:27 PM 4 comentários