sábado, novembro 18, 2006

A Falta



Eis que folheava o caderno de escritos antigos , de uma era atrás, nem sei se foi nesta encarnação que escrevi tudo aquilo! Gosto de dar essas incertas no passado de vez em quando. Bom se revisitar, ainda que inequivocamente bata a sensação de estar vestindo uma roupa emprestada que saiu de moda totalmente. Assim, muito mal vestida, pincei um destes pedaços que me saltou aos olhos por eu haver, desde sempre, simpatizado com ele. Me é caro, e esta sensação me agrada. Vejo que meus olhos e poros guardam todas as etapas que ficaram para trás e , hoje em dia, me satisfaz que seja assim. Gosto de saber que meus registros permanecem, a um só tempo, intactos e passíveis da ação do tempo. Sempre meus, únicos e particulares, com a visão que só é cabível a mim, como cada qual guarda a sua verdade.
Observo minhas verdades se renovarem, somarem-se às verdades que chegam do outro, crescerem, ganharem peso, cor , intensidade ou não. Às vezes, apenas diluem-se pra mostrar que nunca foram verdades, apenas âncoras momentâneas. Eu, no porto, vejo as ondas jogarem-se sobre mim e recuarem, como que me convidando ao mergulho. Sopra a brisa, mensageira da maresia, que me penetra e embala. O som contínuo do espaço onde me encontro e existo a cada dia mais envolvida me canta canções de amanhã numa língua estrangeira. Folheava os escritos enquanto este pensamento me atravessava.

Tenho certeza que a madrugada
sente a nossa falta
quase tanto
quanto eu.
Nada mais me restou
para perder
Virei alguém
que aceita migalhas
em nome do amor.
Virei alguém que diz
- eu amo
Sem saber o que fazer
com o amor.
Virei alguém que conta os minutos
Virei alguém que não vê o tempo passar.
Peguei o caminho errado
e cheguei a nenhum lugar
Mas você vive aqui,
em mim
e em qualquer lugar que eu vá.
Estou à deriva na dor
sem o meu louco amor.

(In memorian)

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, querida...

"Canções de amanhã numa língua estrangeira". Amei isto!

E amei o poema... É um poema que já conhecia, é verdade. Não com as tuas palavras. Mas com outras do meu coração que o viveu inteiro e sabe sobre mendigar migalhas e perder até o que não se tem em nome de um amor. E que aprendeu que amor não é assim. Se for, já não é amor. É a decepção do que poderia ter sido ainda amor e já não era. Talvez nunca fosse. Pelo menos da parte de um. Amor precisa de dois.

Beijos!

#robson barboza# disse...

é sempre bom fazer um releitura, a gente consegue descobrir coisas boas que talvez antes não desse tanta atenção.

Anônimo disse...

Poxa, Bia, como diria Be3lchior: o passado é uma roupa que não nos serve mais! Simplesmente fantástico essa volta as gavetas em busca do que éramos (e ainda somos)! Mesmo quando lemos algo antigo que não sobreviveu ao tempo - essa coisa terrível - resta ainda o que achávamos que seria a verdade, o que acreditávamos que seria o mundo - a gente sempre crescendo se redescobrindo, e os textos marcando nossos passos. Olha, sinceramente gostei muito do poema: muito intenso! Abraços!

Anônimo disse...

Ai tô fã dessa letra, dessa bela poesia... adorei conhecê-la pessoalmente!! Queridex, preciso da sua ajuda na música tá!!
Bjssssssssss

Anônimo disse...

E essa borboleta... lindíssima!!! Sabe que às vezes tenho uma vontade louca de sair plantando flores para elas virem mais à minha casa, ao meu convívio!! Preciso achar esse tempo!! Bjsss