Para alguém como eu, isto é algo que está implícito. Todos os meus dias, ou quase todos, são dia de refletir sobre todo e qualquer tema. Estranhamente, percebo que nos momentos finais de um ano, este efeito "pensador" se potencializa. Talvez por conta da energia - poderosíssima energia - que toma conta do panorama geral. Em nenhum outro momento dos 365 dias que compõe a nossa ilusória noção da contagem do tempo, se pode sentir - e é uma sensação totalmente palpável - tantos corações vibrando juntos e emanando sonhos, desejos, expectativas, angústias, quereres, esperanças. É provável que seja inevitável não sentir a correnteza, ainda que por princípio não se prentenda fazer parte dela.
A força que nos envolve - constantemente, mas ainda mais neste período - é gigantesca, quase assustadora. Só não sei dizer se ela grita de dentro para fora, de fora para dentro ou tudo ao mesmo tempo. De uma forma ou de outra, entre as forças de dentro e de fora, fico sempre eu. Um receptáculo, um transmissor, uma onda que se move sobre si mesma. A urgência dos oceanos lavando a chama das explosões que estouram em todas as curvas do meu universo.
Este é o momento onde, entregue, a minha alma mais se espalha e se divide por lugares inimagináveis sobre a superfície desta terra, o que me soa suspeitamente como uma insinuação involuntária de procura - em todos os planos - por fagulhas dos receptáculos-transmissores que, na mesma entrega, dividam algo entre si. Este é o momento onde sinto uma saudade afrontosa de tudo o que eu ainda não vi. O momento onde tudo o que já fui e tudo o que não sei se algum dia virei a ser, se encontram na fronteira do meu presente exposto.
"Antes de se converter em realidade. o maior êxito foi por um tempo o esboço de um sonho. O carvalho dorme no fruto, o pássaro espera no ovo, e a maior visão de uma alma se espreguiça em um anjo." (James Allen)