sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Naftalina

Perambulando em escritos que ficaram esquecidos, para os quais eu gostaria de me redimir e dar um pouco de atenção.

A Verdade

Eu estou aprendendo
Estou aprendendo a caminhar
Estou aprendendo a me defender sem atacar
Estou aprendendo a ficar de pé diante das palavras duras
Estou tentando aprender a suportar os meios necessários
para chegar aos fins.
Eu estou aprendendo
que nem todo sorriso é amizade,
Nem todo carinho é confiança,
Nem toda ausência é rejeição
Eu estou aprendendo e vou continuar a aprender
que nada é o que parece ser
que dores profundas, às vezes significam
felicidades futuras
Que mal-entendidos continuarão imcompreendidos
se não forem devidamente explicados
Que se pode detestar momentaneamente
pessoas a quem se ama profundamente
Que as maiores dádivas da vida
chegam sem se anunciar
e podem partir com a mesma sutileza
E mais do que isso,
muitas das maiores dádivas
estão presentes diariamente.
Estou sempre aprendendo
que nenhuma mágoa pode me destruir
que nenhuma decepção pode me diminuir
que nenhum dos ataques cotidianos que acontecem a todo momento
podem endurecer meu coração.
Estou aprendendo
a lutar para ser
o que eu quero ser,
e a descobrir o que preciso saber
E que, meus objetivos
são muito maiores do que todos
os buracos do caminho
Que eu sou muito mais eu
E que tudo,
absolutamente tudo
é apenas uma questão de resistência.
(28 de abril de 2003)

Cavalos e Borboletas

A frustração, hoje
está cortando na alma.
Desenfreada
como um puro-sangue
sem rédeas nem cavaleiro.
Consigo ver minha frustração,
negra, lustrosa, imponente
correndo louca
pelos campos sem fim
Aquele momento de lucidez
onde algo no seu âmago
exige
que hajam mudanças
Que, a partir de agora,
o passado esteja proibido
de ser visitado
e o futuro, proibido
de ser imaginado.
No presente,
a mais insaciável
ação
A potência máxima
da iniciativa
A atitude sem lamento,
sem senão
e o medo repudiado
e condenado ao esquecimento.
A afirmativa incontestável
da constância que existe
única e tão somente
na mudança.
Transformação total
e os olhos brilham
reconhecendo as borboletas
saindo com esforço do casulo
e voando para outros céus.
Pousando em todas as flores
sem levá-las consigo.
As borboletas da realização
dando adeus e pousando novamente
a todo instante
E os cavalos da frustração
correndo velozmente sem destino.
(23 de março de 2003)

Alma Supostamente Gêmea

Te escrevo
Para dizer que
comigo está tudo bem.
E com você, também?
Tenho tido
alguma dificuldade
em encontrar
meu caminho.
Talvez por isso
ainda demore um pouco
para chegar até você.
Espero que não tenha problema...
Você já sabe qual é o seu?
O seu caminho, quero dizer.
Me escreva contando os detalhes.
Quero saber qual a sensação
de encontrar.
Como é que você soube que era
o seu caminho?
Está feliz agora?
Será que é por isso
que sinto a felicidade tão perto?
Às vezes fica tudo estranho
Como se estivesse assistindo
ao filme da vida de outra pessoa
Sabe como é?
Você sente isso?
Você escreve quando não pode
dizer o que sente?
O que é que temos em comum?
Você também precisa
de música para viver,
como se fosse o ar?
Você também acha que
o êxtase máximo da vida
é aquele breve momento de plena harmonia?
Você também desconfia sempre
de quem não expõe tudo o que pensa?
Você também se irrita terrivelmente
com quem não tem
muito o que dizer?
Você já chegou ao cúmulo
de escrever para alguém
que pode perfeitamente
não existir???
Você acha muitíssimo difícil
entender as pessoas ou
prefere pensar que
as pessoas não são feitas
para ser entendidas?
Bom, no mais,
acho que está mesmo
tudo bem.
Acho que as coisas,
por alguma razão misteriosa,
estão exatamente onde
deveriam estar,
embora eu não tenha certeza
do que isso signifique.
E você, o que acha?
Será que algum dia
eu vou saber?
Sem mais, fico por aqui
Eternamente sua
se a eternidade existir, é claro.
(26 de agosto de 2003)

5 comentários:

Anônimo disse...

1º - A verdade
Com as minha interrogações e dúvidas sobre a verdade, sobre o que ela é e que forma tem, identifico nesta poesia o bom caminho para a verdade : o reconhecimento de que estamos ainda a aprender, melhor ainda, que estamos sempre a aprender , e que sairemos desta vida sem certezas. Muito bom.

Anônimo disse...

As borboletas, de frágil vida, ums momentos , uns dias ou seja o presente.... o cavalo corre doidamente para um futuro que não conhece , com a ânsia de ser ele a construi-lo...mas está enganado. A serenidade de um presente rico e belo e a desaustinação de quem vive apenas do passado e para o futuro, sem o mais importante , o presente.

Anônimo disse...

Alma supostamente gêmea----Interessantissimo, este diálogo monólogo, estas perguntas , que vivem no espírito de tantos de nós , sem nunca virem á superfície.... Sabe...ás vezes penso que o poeta é um ser que de vez em quando emerge das águas profundas e escuras em que todos nós vivemos.....

Anônimo disse...

Bem, querida... Como lhe disse, adorei os textos. Mas em especial o último.

E adorei também esta abertura do "baú da Bia"... rs

Amo seus textos, novos e antigos... Porque, mais que os ler, leio você neles.

Beijo, beijo, beijo.

Lu Dias disse...

Ahhh quando sai mesmo o livro???
Fico aqui apreciando cada palavra, cada texto muito bem escrito e cheio de alma, cheio de presença, isso que é legal nos seus textos, e aí está a maravilha de se escrever sem obrigação, escrever por viver cada linha e ter o dom da expressão, da escrita! Sentimentos que viram letras e letras que pra mim viram sentimentos!
O meu, é claro, quero autografado!
Bjão!!!